A avó foi sempre uma mulher muito religiosa. Com ela aprendi, muito cedo, muita da doutrina que só iria aprender, mais tarde, na catequese. Agora, que já sou mais crescida, começou a falar comigo de mulher para mulher. Eu, ainda um pouco envergonhada pelo que ela me conta e ensina, começo já a sentir-me uma rapariga crescida. Nunca a mãe ousou falar comigo destes assuntos de mulheres. As coisas que ela já me contou! Nem sei se deva reproduzir tudo, pois são coisas de me fazer corar. Se a mãe sabe pode ficar aborrecida, com o génio que tem! Mas a avó diz que eu tenho que saber estas coisas, que são muito importantes para uma mulher. Ela contou-me que há meninas com a minha idade que já são mulheres e que eu também posso ser brevemente. Ser mulher quer dizer que irei ter a menstruação uma vez por mês. Esta é um sangramento que indica que o meu corpo está preparado para poder vir a ter filhos. Por isso, não me convém que eu brinque com os rapazes, porque as mulheres devem ser recatadas, e eles não têm que saber nada disto.
Ela contou-me que, no seu tempo, as meninas não sabiam de nada e eram apanhadas de surpresa quando sangravam pela primeira vez e algumas ficavam aterrorizadas a pensar que iam morrer. Mas com ela foi diferente. Contou-me que foi mulher muito tarde. Tinha quase vinte anos, já namorava até o avô, e menstruação nada. Foi preciso ir para a praia, no Verão, durante quinze dias. Lá, um banheiro dava-lhe banho no mar todos os dias logo pela manhã, que ela até engolia uns pirolitos. Como eu não sabia o que eram pirolitos, ela explicou. O que me lembrou o que um amigo das minhas outras duas primas também há dias me fez.
Estas minhas primas, a Graciete e a Sílvia, são filhas da minha tia Rosária, irmã da minha mãe. Alguns domingos, depois da missa, fico com elas toda a tarde. Num destes domingos fui com elas e os tios à praia. E foi lá que encontraram o tal amigo. Este queria brincar a empurrá-las para dentro das ondas. Elas fugiam e como ele não as apanhava, fui eu que paguei. Pegou em mim ao colo e mergulhou-me numa onda enorme. Como eu não estava a contar, engoli muita daquela água salgada, não só pela boca mas também pelo nariz, que até me engasguei toda. É isso que é engolir um pirolito.
Com os banhos na água do mar, a avó ficou, finalmente, menstruada pela primeira vez. Diz que sangrou tanto que a melhor solução que encontrou foi a de vestir umas ceroulas do pai dela, porque diz que no seu tempo as mulheres não usavam cuecas. Perante a minha cara de espanto, ela pareceu-me um pouco embaraçada, mas lá foi contando que as saias eram compridas e que usavam uns saiotes que, nessas alturas, enrolavam às pernas presos com um alfinete.
Pronto, não me parece que deva entrar em mais pormenores. Mas que ela me tem ensinado muito... isso tem!
(Publicado em livro: Memória Alada, 2011)Ela contou-me que, no seu tempo, as meninas não sabiam de nada e eram apanhadas de surpresa quando sangravam pela primeira vez e algumas ficavam aterrorizadas a pensar que iam morrer. Mas com ela foi diferente. Contou-me que foi mulher muito tarde. Tinha quase vinte anos, já namorava até o avô, e menstruação nada. Foi preciso ir para a praia, no Verão, durante quinze dias. Lá, um banheiro dava-lhe banho no mar todos os dias logo pela manhã, que ela até engolia uns pirolitos. Como eu não sabia o que eram pirolitos, ela explicou. O que me lembrou o que um amigo das minhas outras duas primas também há dias me fez.
Estas minhas primas, a Graciete e a Sílvia, são filhas da minha tia Rosária, irmã da minha mãe. Alguns domingos, depois da missa, fico com elas toda a tarde. Num destes domingos fui com elas e os tios à praia. E foi lá que encontraram o tal amigo. Este queria brincar a empurrá-las para dentro das ondas. Elas fugiam e como ele não as apanhava, fui eu que paguei. Pegou em mim ao colo e mergulhou-me numa onda enorme. Como eu não estava a contar, engoli muita daquela água salgada, não só pela boca mas também pelo nariz, que até me engasguei toda. É isso que é engolir um pirolito.
Com os banhos na água do mar, a avó ficou, finalmente, menstruada pela primeira vez. Diz que sangrou tanto que a melhor solução que encontrou foi a de vestir umas ceroulas do pai dela, porque diz que no seu tempo as mulheres não usavam cuecas. Perante a minha cara de espanto, ela pareceu-me um pouco embaraçada, mas lá foi contando que as saias eram compridas e que usavam uns saiotes que, nessas alturas, enrolavam às pernas presos com um alfinete.
Pronto, não me parece que deva entrar em mais pormenores. Mas que ela me tem ensinado muito... isso tem!