28/09/2010

Luísa

Luísa casara numa manhã de Junho; era Primavera, quase Verão. Tinha sido uma cerimónia íntima no registo civil, apenas com um casal amigo de ambos por testemunhas, seguido de um almoço a quatro; e pronto.
O marido, filho único de pais já idosos, não tinha mais família chegada; por isso não queria grandes cerimónias nem boda e resolvera assim. Ela amava-o e conformara-se; que fossem um do outro, construir uma vida em conjunto, era tudo o que lhe bastava. Mas a sua família não lhe perdoou o casamento fugido e repudiou-a. Acabou, com muito custo, por se habituar a esse afastamento; em contrapartida ganhou outra família: os pais do marido, que passaram a ser a sua única família – eram eles que a estimavam como filha.
Casada ainda não era há um ano quando o marido lhe desapareceu, num dia de nevoeiro, qual D. Sebastião. Passou muito mal. A dor e o pranto pareciam querer roubar-lhe a vida. Dormia mal, comia mal… ou mal dormia e mal comia, ao que se seguiram quebras de tensão, desmaios; enjoos. Definhou. Estava grávida, soube-o depois. Isso a salvou. E foi mãe.
Ter um filho sem pai era ter que ser mãe e pai para ele. Dedicar-se inteiramente àquela criança supria-lhe a falta do marido e ajudava-a a não pensar no sofrimento que a falta dele lhe causava. O filho era vida, alegria ressurgida, amor perpetuado.
Visitava amiudadamente os sogros, os quais deliravam com o neto que ia crescendo esperto e saudável, recordando-lhes saudosamente o filho, ao mesmo tempo que lhes preenchia algum do vazio deixado. As férias e muitos fins-de-semana eram passados juntos, até que um dia mais tarde Luísa se mudou para lá. A idade avançada tornava-os cada vez mais dependentes e não tinham mais ninguém senão a ela e ao menino.
Mas não foi só isso que a levou àquela mudança de cidade e de vida. É que a vida também é feita de repetições…

15 comentários:

Ives disse...

Olá, gostei viu, me prende a atenção abraços

antonio ganhão disse...

A vida é cheia de ironias que nos magoam.

Gabriela Rocha Martins disse...

bem certo ,infeliz mente ,quando escreves - "a vida também é feita de repetições"



.
um beijo

Maria Soledade disse...

Fa Menor;Um belo conto apesar da nostalgia que encerra.Trasmitis-te com esta estória uma grande lição de vida.

Parabéns Linda...e sim, "a vida também é feita de repetições"...

Alberto Oliveira disse...

ah que suspense danado
fico em pulgas e comichões
ser logo o texto cortado
ao escreveres repetições.

ao escreveres repetições
de qu´é feita a vida também
cuidado com as ilusões
não desapareça mais alguém.

bjs e sorrisos.

O Árabe disse...

Bem dito, amiga, bem dito... a verdade é que ela se repete sempre, ainda que às vezes não o percebamos. :) Bom fim de semana!

JOTA ENE ✔ disse...

ººº
Escreves bem, moça...

Passei p'ra desejar um óptimo f-d-s

poetaeusou . . . disse...

*
amiga
realidades
da "vida real"
,
um mar de amizade,
,
*

Insana disse...

Muito lida a forma que você coloca o texto.

bjs
Insana

. intemporal . disse...

.

. fatal . na vida que se repete .

.

. e digo e repito .

.

. franzo dedos para saber mais .

.

. um beijo .

.

. e,,, . um bom domingo .

.

. paulo .

.

helia disse...

Sim a Vida é feita de repetições...
O que é preciso é vivê-la com serenidade e aproveitar os momentos felizes que surgem e que compensam os maus momentos que muitas vezes vivemos.
Uma boa semana

uminuto disse...

repete-se a vida e repetem-se sentires
um beijo e boa semana

Vanuza Pantaleão disse...

Um história tristonha, mas tristezas fazem parte do nosso viver.
Tristezas repetem-se...

Beijinhos e uma ótima semana!!!

Lilá(s) disse...

Conto suave, apesar de refletir nostalgia é lindo.
Bjs

armalu,blogspot.com disse...

Que conto lindo, nostalgico mas lindo. parabéns amiga.bj

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