05/01/2011

Espírito de Natal III

(continuação de Espírito de Natal II)

Maria esperou. Mas, apesar da esperança que se lhe aninhou no coração, o Natal passou e o espírito de Natal não veio.
Maria Aurora barafustava a toda a hora: com a filha; com o genro; com os netos. Alcides, já sem nenhuma paciência para a aguentar, parava cada vez menos em casa. José Maria e Matilde passaram a fechar-se cada qual no seu quarto, isolando-se do resto da família e do mundo. E Maria dizia mal da sua vida, ao mesmo tempo que elevava o seu pensamento ao Deus Menino que nascera para resgatar os oprimidos, pedindo-lhe uma luz que a iluminasse, a fim de conseguir encontrar uma solução para os problemas da sua família.
Já novo ano. Já Reis. E ela reflectia em como os Magos tinham ido do Oriente ao encontro do Salvador, guiados unicamente por uma estrela. Tinham feito uma caminhada durante meses até o encontrarem. Pois ela também haveria de caminhar. Sabia, tinha fé, de que uma estrelinha a guiaria. O espírito de Natal não tinha vindo, mas a esperança que lhe restava dizia-lhe que ele não se ausentara para sempre. Só precisava de um ninho quente para pernoitar e ali, no seu lar, definitivamente, não o havia nesta altura. Era preciso prepará-lo. Tinha, pois, de passar à acção, não podia ficar parada, de braços cruzados, numa eterna espera de que o espírito de Natal lhe caísse do céu, ali, assim sem mais nem menos, e que num estalar de dedos, num passe de magia, acontecesse o milagre esperado, sem nada fazer por ele.
Talvez que ele viesse só no próximo Natal – há coisas que levam tempo –, mas não é o tempo por si só a dar conta do recado; tem de se trabalhar para conseguir resultados. No entanto, Maria sentia-se impotente para, sem a cooperação de todos os elementos da família, conseguir o que quer que fosse. E eles nada faziam para emergir daquela situação, muito pelo contrário, o seu rumo era em direcção ao fundo.
Tinha chegado, assim, a hora de engolir a vergonha e procurar ajuda externa especializada. E não era tarde nem era cedo – era agora.

(continua em Espírito de Natal IV)

16 comentários:

Lilá(s) disse...

Pelo menos o espirito de Natal veio sobre a forma de forças para ela procurar ajuda! vou aguardar com ansiedade a continuação
Um beijinhos grande

antonio ganhão disse...

Não esperava um fim tão material: pedir ajuda no concreto. Terá sido o fim das ilusões ou uma renúncia a algo de mais profundo?

Ficou-me essa dúvida (o que significa que este texto está bem conseguido).

poetaeusou . . . disse...

*
amiga,
tem que ser agora,
a Quaresma, está aí
á esquina, é um instantinho !
,
conchinhas,
,
*

. intemporal . disse...

.

. o natal não veio .

.

. a família silenciou.se nas amarras do silêncio .

.

. e o que nasceu deste e neste natal foi o isolamento .

.

. mas porque de uma lição de vida há sempre algo de positivo que se e.terniza, eis que surge então e inesperada.mente um caminho .

.

. e é neste caminho que [também] me encontro . aguardando ansiosa.mente a re.vira.volta da volta que a vida deu .

.

.

. um beijo .

.

. com amizade .

.

. paulo .

.

Vanuza Pantaleão disse...

Textos sempre profundos, para refletir sempre.
Querida Fa, tenha um 2011 perfeito e com muita saúde.
Te adoro, amiga!!!

Utilia Ferrão disse...

Bem o fim parece um bocadinho triste mas sabes que as coisas de Deus muitas vezes são tão profundas que os resultados parecem não se verem mas estão lá
escondidos, vamos continuar a acreditar.
Beijinhos
Utilia

Luna disse...

por vezes sozinhos nada conseguimos
beijinhos

jorge vicente disse...

A ajuda externa especializada não ajuda nada. Pode tapar buracos, mas o que estava lá continua lá.

A solução será procurar ajuda interna especializada. Estar em paz, aceitar o que tiver de ser mesmo que as coisas pareçam terríveis.

Pois o pior é quando algo está mal e nós ainda desanimamos mais quando devia ser o contrário.

Muitos beijinhos
Jorge

O Árabe disse...

Me fizeste lembrar, amiga, algo importante: quantas vezes esperamos chegar uma nova vida, sem perceber que a sua semente já se encontra em nós! :) Boa semana.

Insana disse...

um texto triste, pela falta de sentimentos.

bjs
Insana

Ana Tapadas disse...

A realidade!

Beijinho e um Ano Novo melhor.

Petrus Monte Real disse...

Fá:

Gosto muito da bela
e sempre actualíssima narração!

Um beijo de amizade
e bom ano novo

MARILENE disse...

Agir é a melhor maneira de mudar o que não está acontecendo como desejamos. O espírito do Natal não vem pousar em nossas janelas. É preciso senti-lo, abraçá-lo, e vivê-lo. Bjs.

Majo Dutra disse...

Coitada!! Foi uma ótima decisão, aguardo o fim do conto.

Beijinhos, Fá.
~~~~~

Ana Freire disse...

Um belo texto, cujo sentido... fez ainda mais sentido, neste Natal, cujo espírito... não foi igual ao habitual... com esta ameaça sob as nossas cabeças, em que o mundo mergulhou...
Vou já em seguida, espreitar a continuação!
Estimo que tenha passado o seu Natal, o melhor possível, Fá!
Deixo um beijinho e os meus votos de que 2021, possa ser incomparavelmente melhor! Tudo de bom!
Ana

Królowa Karo disse...

And this is what is most important NOW!

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