05/01/2012

Frio


De súbito sentiu frio.
Um gelo fino começou a apoderar-se-lhe das mãos. Um nevoeiro branco, denso, semelhante a escuridão, a inundar-lhe os pensamentos. E um tornado na alma, uma ânsia no coração, um degredo, um medo, uma solidão… e uma coragem vadia, que ora o tocava, ora lhe fugia.

Uma procelosa história de amor tinha-lhe batido uma vez à porta e ele deixara-a entrar, sem reservas. Mas ela tão depressa como entrara assim saíra, não sem antes fazer a porta em pedaços, como se fora um disparo de canhão. E agora o frio entrava. Entrava tudo, porque não havia porta para o proteger.
Mas não se lamentava de ter amado, de amar ainda, mesmo que um amor sofrido. O que o constrangia era não conseguir sair para fora de si, atravessar os destroços mal arrumados e sempre revolvidos, ao encontro da verdade que tinha medo de desvendar.
E assim se enredava numa malfadada dor, que o não abandonaria enquanto permanecesse cobardemente sentado, à espera nem sabia de quê. Que ela viesse até si? Isso seria brilhar o sol no céu da sua noite. Um milagre improvável. Mas ele podia ir até ela, já descobrira onde morava… e, sem que ela o suspeitasse, já a tocava ao longe com o olhar, já a suspirava em cada beijo imaginado, já a sintonizava dia após dia em cada poro da sua pele. Sim, podia ir até ela. Não se sentia era nesse direito. Mentia: o que tinha era medo. Medo. Medo… Medo!
E sentiu mais frio…

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