28/04/2017

Gaivotas II


"Uma gaivota voava, voava,
Asas de vento,
Coração de mar.
Como ela,
Somos livres,
Somos livres de voar."


O dia entardeceu nublado. Aproximei-me do mar para lhe sentir o fresco. O areal cheio de gaivotas pousadas na areia. 
Dizem que gaivotas em terra significa tempestade no mar. Que quando o mar está agitado, as gaivotas vêm para a terra. Será isso um sinal a avisar que vai haver tempestade no mar?... O povo também diz: Gaivotas pela terra adentro, sinal de mau tempo. Pressentirão elas o mau tempo? Não sei. Eu gosto de as ver, ao longe. São tão bonitas no ar! Quando voam são muito bonitas, e em terra também o são. Junto ao mar têm-me feito companhia, horas a fio, em dias óptimos e mar espectacular. E marcam a distância: se tento aproximar-me, lá vão elas em voo. São bonitas, ao longe. Fascinam-me com a sua beleza. 

Ontem também notei que havia algumas gaivotas onde o mar não é assim tão perto. Andavam à procura de alimento. Uma, que parecia ter uma pata ferida, pulando só na outra pata, ficava para trás. Fiquei com pena. 
Lembrei-me do rifão que também já ouvi: gaivotas por terra, ou fome ou guerra. Seja como for, gosto das gaivotas! São como todos nós, como todos os outros seres vivos empenhados na sua sobrevivência. Gostam de peixe, quando há. Quando não têm, comem o que encontrarem. 


Canto e recanto aquela canção da gaivota. Uma música simples, canção de embalar, que me emociona. No caminho das pedras é promissor - o que quer que venha, será, com certeza, melhor. A ingenuidade, se calhar, assim me o dita. Meus quinze anos – tempo de semear sonhos. 
Fecho os olhos para sentir os sonhos com mais intensidade, e para não sentir mais nada. 

Pois eu gosto das gaivotas! 
Espero que sejam felizes. Como elas, espero ser livre e feliz.

O tempo está bom para semear sonhos…

11/04/2017

Esforça o corpo, liberta a mente


Que bem se está à sombrinha, na espreguiçadeira, debaixo do telheiro, ao som do espanta-espíritos a tinir movido pela aragem. O reflexo da água do tanque, nas telhas a fazer ondas. O zumbido dos moscardos aqui na sombra; o pio de um pássaro lá em cima no azul do dia, talvez milhafre; borboletas brancas bailam voando para lá do muro… 
Há lírios roxos pela borda da parede da adega além; é Quaresma. Primeiro Mistério Doloroso: A agonia de Jesus no horto; Pai Nosso, que estais nos céus… – e a história daquele que foi mandado rezar o Pai-nosso todo, até ao fim, sem que o pensamento lhe fugisse para mais nada, sob o prometido de “se fores capaz dou-te uma junta de bois”, e ele a meio da reza pergunta se os bois viriam também com a canga?! Perdeu. E eu também me perdi. Perco-me sempre que rezo. O pensamento vagueia. Tantas vezes me fogem os pensamentos, que tenho de repetir as ave-marias e um ou outro mistério que já não sei se foi ou não rezado. 

Calço as sapatilhas e faço-me ao caminho, antes que seja mordida por algum moscardo.


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