20/10/2018

Tempestade Vendaval


Sobravam tempos a ameaçar. Céus nublados e semblantes. Desconsertos, sem concertos nem sinfonias. Danças em dó maior.

E chegou, viu e quis vencer.
Em cegueira que se apodera das fragilidades, e destrói em segundos o que levou anos a mal erguer.
Ela desce e rodopia, roda e pia, pia e roda. Enrosca-se e enrola. Rola, rebola, revolve e revolta, às voltas, às soltas, sem tento nem portento que lhe trave e freio; sem meio de remir o que largou ou o devir.

Tempestade vendaval desengonçada atravessa a praça e as ruas; as vielas mais escondidas; os jardins e as florestas; as aldeias preguiçosas e cidades buliçosas, desde o casebre mais tosco até ao palácio real; castiçais e candelabros são apagados num fôlego, sem dó nem piedade de plebeu ou divindade.

Tempestade furacão, fura gente, fura almas, desalmada, descompensada, destrambelhada, sem coração nem entranhas, que causa dores tamanhas, torturas, tonturas e desgostos; salta em rostos pregões aos quatro ventos, arrastando-se pela lama, destelhando até à cama, rodopiando à lareira, soprando pela boca faúlhas de fogueira. Invertebrada sai pelos mundos de qualquer jeito e maneira, sem jeito nem maneira, de soltura e caganeira. Garganeira.


Mas creio firmemente num só Deus que nos governa e vela; quando nos atravancam uma porta, Ele escancara-nos uma janela.

15 comentários:

alfacinha disse...

Espero que essa janela escancarada seja a compreenção que a humanidade deverá resolver o problema do aquecimento global.
Bjos

Raquel Loio disse...

Gostei de ler, gostei da utilização das palavras :) beijinhos

CÉU disse...

Acompanhei uma tempestade ao "vivo", visto nunca ter presenciado nenhuma.
E nada escapa àquela força, que não sabemos de onde vem, mas vem e tu sabes tão bem caracterizá-la a quem te lê.

Grata por visita e inteligente comentário no meu blogue.

Beijos e bfds.

edna figueiredo disse...

Olá Fá querida,
seu texto é emocionante.
Uma clareza e uma riqueza de detalhes admirável.
Gosto do modo como escrevi.
Parabéns!
Beijo, Deus esteja com você.

Parapeito disse...

gostei de ler .
Bom quando fica a esperança mesmo depois da porta fechada.
Abraço**

Quase Cinderela disse...

Acredito sim, que, na maioria das vezes, há esperança.
Lembro-me ainda hoje, da minha Professora de História do 5º ano nos ter dado uma folha dobrada, dum lado tinha uma porta fechada onde se lia "Quando se fecha uma porta", do outro uma janela aberta onde se lia "Algures abre-se uma janela", eu só tinha 11 anos mas marcou-me e guardo-a há 3 décadas :)
Gostei muito do teu texto
Haja sempre esperança querida
Beijinho grande

Smareis disse...

Um texto lindamente escrito.
Deus na hora certa Ele sempre vai agir se acreditarmoas, ainda que as tempestades balancem o nosso barco.

Um abraço, um sorriso e um excelente mês de novembro.
Precisei me ausentar devido viagem de urgência, mas estou de volta. Tem nova postagem.
Escrevinhados da Vida

Ana Freire disse...

Um texto que nos faz reflectir, nas nossas fragilidades, e o quanto estamos à mercê das forças da natureza... ou do destino... que a qualquer momento, de repente, tudo pode na nossa vida, mudar...
Mas também quero crer em tal... quando uma porta nos é fechada... é porque nos estaria destinada uma janela aberta... para algo, talvez bem melhor!...
Sempre um prazer imenso, descobrir a sua escrita, Fá!
Um beijinho grande e continuação de umas boas férias!
Ana

Olinda Melo disse...


Boa noite, Fá


Um texto trepidante que nos dá
a conta de quão frágeis nós somos
perante as forças da natureza ou
outras, que fogem ao nosso controlo.

Bj

Olinda

By Me disse...

Que reviravoltas e piruetas, as mesmas que a tempestades dão, loucas e desenfreadas. O que o homem desencadeou... outra forma de agredir novamente os mais fracos e desfavorecidos. Durante alguns anos, a fatura caía sobre os mais pobres, agora já não é bem assim. Os temporais são muito frequentes e não poupam ninguém;nem ricos, nem pobres. Mas não sei... tenho medo, estou preocupada, o que observo não me agrada nada. E tal como tu, acredito em Deus mas também penso que o homem não pode tratá-LO como tem tratado. Não se brinca com o Divino, não se desrespeita, não se maltrata... não se cospe no prato onde se comeu e volta a cuspir, para voltar a comer, servir-se à vontade, à vontadinha. Não pode ser assim. Há limites para tudo. Não se abusa!

Um domingo sereno.

Majo Dutra disse...

Um texto veemente, poderoso e muito expressivo.
Uma descrição de um vendaval muito bem conseguida por imagens catastróficas e que perdeu pelo uso de termos pouco corretos.
Realmente, é uma força bruta impressionante que ganhámos pelo
aquecimento global.
Bjnhs
~~~

J.P. Alexander disse...

Cuando hay fe hay esperanza que las cosas mejoren. Te mando un beso

Porventura escrevo disse...

Gostei.
Até da convicção de fervor religioso no fim
:-)

Ane disse...

Uma tempestade que põe medo em qualquer um, até nos mais corajosos!
A natureza é beleza e paz, mas as vezes ela mostra seu poder!
E nós? Somos frágeis demais!

💗🌷 Beijos e boa semana!

Sérgio Santos disse...

Isso com certeza. Uma mensagem que nunca é demais ser apreciada. Bjs e boa semana.

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