A mãe mandou-me varrer a cozinha. E eu varri-a. Mas, no fim, ralhou comigo porque tinha ficado toda mal varrida. Eu acho que ficou bem, mas ela diz que deixei lixo atrás. Não vejo onde, mas pronto, ela tinha que implicar. Nada nunca está à vontade dela.
“Era uma vez uma Carochinha que achou 5 tostões quando varria a cozinha.” Era assim que começava a história que eu tinha bordada no bibe quando andava na terceira classe. E a Carochinha aparecia com uma vassoura na mão a varrer. “Comprou fitas e laços e pôs-se à janela.” E aparecia a figura da Carochinha à janela. “Quem quer casar com a Carochinha, que é tão linda e bonitinha?”
As minhas colegas, no recreio da escola, faziam roda à volta de mim com o meu bibe na mão a ver os bonecos bordados e a ler: “Passou o gato: miau, quero eu!”… “Passou o cão, ão, ão, quero eu!”… “Mas ela não quis!”…
Gostava de me sentir o centro das atenções quando levava o bibe vestido para a escola. Sentia-me uma Carochinha enfeitada com fitas e laços. Agora, que sou mais crescida, não é assim. A mãe parece que faz, cada vez mais, de propósito para me fazer sentir um Patinho Feio… e sem vontade própria. Ela é que sabe; ela é que faz; ela é que manda. Mas ela não sabe nada. Continuo a sentir-me o centro das atenções, mas por motivos contrários: sinto-me desprezada na maneira como me faz vestir. E não sou só eu que o sinto, já mais alguém o notou, que eu bem o ouvi cochichar.
Mas chegará uma altura em que ela não mandará mais em mim. Hei-de arranjar um modo de ser eu própria a vestir-me à minha maneira, para ficar bonita como a Carochinha…