Luísa casara numa manhã de Junho; era Primavera, quase Verão. Tinha sido uma cerimónia íntima no registo civil, apenas com um casal amigo de ambos por testemunhas, seguido de um almoço a quatro; e pronto.
O marido, filho único de pais já idosos, não tinha mais família chegada; por isso não queria grandes cerimónias nem boda e resolvera assim. Ela amava-o e conformara-se; que fossem um do outro, construir uma vida em conjunto, era tudo o que lhe bastava. Mas a sua família não lhe perdoou o casamento fugido e repudiou-a. Acabou, com muito custo, por se habituar a esse afastamento; em contrapartida ganhou outra família: os pais do marido, que passaram a ser a sua única família – eram eles que a estimavam como filha.
Casada ainda não era há um ano quando o marido lhe desapareceu, num dia de nevoeiro, qual D. Sebastião. Passou muito mal. A dor e o pranto pareciam querer roubar-lhe a vida. Dormia mal, comia mal… ou mal dormia e mal comia, ao que se seguiram quebras de tensão, desmaios; enjoos. Definhou. Estava grávida, soube-o depois. Isso a salvou. E foi mãe.
Ter um filho sem pai era ter que ser mãe e pai para ele. Dedicar-se inteiramente àquela criança supria-lhe a falta do marido e ajudava-a a não pensar no sofrimento que a falta dele lhe causava. O filho era vida, alegria ressurgida, amor perpetuado.
Visitava amiudadamente os sogros, os quais deliravam com o neto que ia crescendo esperto e saudável, recordando-lhes saudosamente o filho, ao mesmo tempo que lhes preenchia algum do vazio deixado. As férias e muitos fins-de-semana eram passados juntos, até que um dia mais tarde Luísa se mudou para lá. A idade avançada tornava-os cada vez mais dependentes e não tinham mais ninguém senão a ela e ao menino.
Mas não foi só isso que a levou àquela mudança de cidade e de vida. É que a vida também é feita de repetições…