24/05/2018

Se chove...


Chove. Chove se chove!

A andorinha estacionada no fio do telefone espaneja as asas de consolação.
Agora: um relâmpago, seguido de trovão que ecoa céu cinzento além.
A andorinha, porém, continua no mesmo sítio, alegre no seu banho de chuveiro, soltando, de vez em quando, a sua cantilena de satisfação.
Em baixo, dois melros pulam no tapete verde molhado do pasto verde recém-cortado; outra andorinha rasou o muro alto, indo enfiar-se debaixo do telheiro, direita ao ninho acolhedor das suas crias, que lá vivem o seu pequeno mundo o dia inteiro.

Os melros acabam por abandonar o recinto; e a andorinha, não minto, continua no seu duche matinal; ao mesmo tempo que um outro pardal se passeia em pequenos voos rasantes às folhagens verdes das plantas do canteiro do quintal, nelas pousando aqui e ali sem se demorar, beijando pérolas luzentes e macias de água, como quem as quisesse namorar.

A chuva abrandou um pouco, e a andorinha deu por finalizada a sua mais que tarefa refrescante sagrada. Foi e voou pelos ares na parda madrugada, enquanto eu observava pela janela, encantada.

Logo logo, a chuva recomeçou. E a andorinha voltou. Ao mesmo preciso lugar. E dali mirava o mundo ao redor. Era a sua praia. 

Eu é que não me posso quedar mais tempo à janela a mirar, não vá o mundo fugir ou parar. Daqui para a frente, se quiser escrever o que a andorinha fizer, só se me propuser inventar.

E se chove!...

poderá também gostar de:

Mais Rabiscos