A amizade é parecida com um ninho com passarinhos.
Depois de feito o ninho, vem a avezinha e põe um ovo, e mais outro, e às vezes mais dois ou três. E depois, a avezinha passa o seu tempo a chocar os ovinhos até eclodirem em nova vida. Depois alimenta as crias até elas criarem penas fortes para o voo. Depois, bem… depois, depois… não pensemos nisso.
Conheci a Carla. Veio pela mão da Nela que me a apresentou. É de Lisboa, mas veio até à aldeia passar férias em casa da Nela. Ficámos amigas. A Nela tanto mora cá como mora em Lisboa, quero dizer: ela é de cá mas andou sempre na escola em Lisboa, vindo cá bastas vezes, tantas quantas a escola lhe permite. E todas as férias são cá. Somos boas amigas. E a Carla é a sua amiga de lá. Agora também é minha.
Como eu não tenho ordem de sair, pois tenho que tomar conta da mercearia, são elas que vêm ter comigo. Passamos muito tempo aqui as três. A ouvir rádio – telefonia, como elas dizem – a conversar sobre coisas de lá e de cá, a partilhar jogos e lenga-lengas, a ler revistas e fotonovelas, trocar confidências… isto nos intervalos, quando não tenho fregueses para aviar. Quando estamos juntas parece que o mundo pára. É como a ave que choca os ovos no ninho! Elas como que não saem de cá e eu sinto-me bem assim com elas.
Há dias apareceram-me aqui com um inquérito, rabiscado nas folhas de um caderno, para eu lhes responder. A primeira folha para pôr o nome. Em cada folha seguinte uma pergunta. Já havia várias respostas que outros tinham dado; eu só tive que escrever as minhas. É interessante, lúdico, como se fosse um jogo. As perguntas são variadas, sobre os mais diversos assuntos: Qual é a comida que mais gostas? Qual é o teu clube de futebol favorito? Qual é o teu artista preferido? Tens algum animal doméstico? E outras assim do género. Muitas. Até à última folha. Depois eu também quis fazer um caderno com um inquérito assim para mim. Copiei as perguntas, troquei algumas e ainda acrescentei outras que achei relevantes, para lhes fazer a elas e aos outros meus amigos. Acho que é uma boa maneira de conhecer um pouco melhor os amigos, os seus gostos e preferências. Assim podemos ir vendo quais são as coisas em que coincidimos e aquelas em que somos divergentes. Mas lá por se ter alguns gostos diferentes não quer dizer que se ponha de lado esses amigos, pelo contrário, na diferença é que nos podemos completar uns aos outros e trocar saberes, e assim enriquecer os gostos uns dos outros, partilhando experiências para aprender sempre mais.
É muito bom quando se tem amigas e amigos. Se não fossem eles o tempo seria muito vazio, como se uma avezinha não tivesse aprendido a voar e se limitasse sempre ao chão. Assim com amigos, ao menos, dá para espanejar um pouco as asas ao sol. Muito embora saibamos que as suas asas também empreenderão outros voos.