Este meu presépio aqui na montra da loja é bem mais pequeno do que o do tio Zé. O dele é enorme! Estende-se pela adega além, em cima de um palanque de tábuas para dar uma altura, que foi revestido até ao chão de papel pardo, retirado de sacos grandes de farinha, enfeitado depois com fitas e bolas coloridas e brilhantes. E o mais importante: tem imensas figurinhas. Perco-me a observá-lo sem nunca me cansar. A cada Natal há sempre mais coisas que o tio vai acrescentando: luzes, água, um ou outro movimento, campainhas que tocam ao ser puxado um cordel que vem pela parede até à porta…
Para além das figuras iguais às que o meu presépio também tem, há outras que me causam alguma estranheza e admiração. Gosto tanto de apreciá-lo e de fazer perguntas! Ó tio, o que é este? Ó tio, e este? Ó tio, e ali aquele?... E o tio com a sua paciência pachorrenta vai-me explicando, como quem está a ensinar catequese – o tio é catequista.
Por exemplo, tem um velhinho de barbas brancas com um menino pequenino às costas: diz o tio, que é o Ano Velho que traz o Ano Novo. Tão giro! Nunca tal me passaria pela cabeça: o Ano Velho e o Ano Novo em figura de gente... (e enquadrado no presépio... humm... um homem velho carregando um Homem Novo! Algo a ver com Jesus terá... ainda cheguei a pensar que seria o Pai Natal e o Menino Jesus, que tola, sei lá!...)
Intrigou-me também uma figura de uma senhora que puxa pela mão, como que arrastando, uma criancita que parece ir a chorar. Lá mais atrás uma figura de um militar empunhando uma espada. O tio diz-me que a senhora e a criança vão a fugir dos soldados do Rei Herodes, aquele malvado, que mandou matar todos os inocentes meninos pequenos até aos dois anos de idade, para ver se entre eles apanhava o menino Jesus para o matar. Pois se Jesus é o Rei dos Judeus, pensava ele que vinha usurpar-lhe o seu lugar no trono, não percebendo que o Reino de Jesus é um reino de paz, de amor e de graça de Deus, de vida, de verdade e de justiça; um reino bem diferente dos deste mundo.
Também detive o olhar, mais além, num burrito que carrega Nossa Senhora com o Menino ao colo, com S. José adiante a pé, segurando o burrinho pela arreata. Conta que vão em fuga a caminho do Egipto, para que Herodes não apanhe e mate o Menino. São José tinha sido avisado num sonho, por um anjo, para que fugissem para o Egipto e por lá permanecessem até que passasse o perigo e lhe fosse transmitido que poderiam regressar.