31/12/2024
Presépio na Montra e a revisita
28/12/2024
Presépio na Montra e A Fuga para o Egipto
27/12/2024
Presépio na Montra – Os Reis Magos
Depois, sendo avisados em sonhos para não voltarem ao castelo de Herodes, pois as intenções dele não eram boas, escolheram um caminho diferente para voltarem às suas terras.
25/12/2024
Presépio na Montra – Que Alegria!
Ora bem: naquela região, perto da gruta que deu guarida a Maria e a José, e onde o Menino Jesus viria a nascer, andavam uns pastores que guardavam os seus rebanhos e por lá pernoitavam, coitados! Se calhar tinham de dormir nalguma gruta que por lá houvesse, ou nalguma cabana improvisada, senão teriam de dormir ao relento e ao frio junto com as ovelhinhas.
Não sei quantos seriam, mas ainda me restam aqui dois. Vou fazer umas elevações com pedras e cobri-las de musgo para dar o ar de serra, e colocar as duas figuras dos pastores, mais dois cãezinhos que ajudam a guardar os rebanhos, e as ovelhas que me restam e que já só dão quatro a cada pastor: pobres pastores, até no número de ovelhas são quase miseráveis! Pobres entre os poucos animais, que mal davam para se aquecerem uns aos outros nas noites geladas de invernia!
Então era de noite, mas uma luz bem forte, que eles viram brilhar, fez-lhes ver tudo como se fosse de dia: era um Anjo que lhes vinha anunciar o nascimento de Jesus:
“Anuncio-vos uma grande alegria:
… Nasceu-vos um Salvador.
… Encontrareis o menino envolvido em panos e deitado numa manjedoura.”
Depois juntaram-se, àquele Anjo, outros Anjos que cantavam em coro:
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados!” (cf. Lc. 2, 10 – 14)
Agora é que vai!… só tenho uma figurinha de Anjo, com uma faixa escrita: “Glória a Deus nas Alturas”! Vou pôr o Anjo junto aos pastores e, para já, fica assim. Depois hei-de fazer outros anjos em cartolina e pendurá-los na árvore de Natal, para dar a ideia de que andam a voar e a cantar por ali. Sim, porque era o Filho de Deus que acabava de nascer, e até os Anjos do Céu vieram cantar. Uma alegria contagiante, pois o Messias esperado pelas pessoas, o Salvador, já estava no nosso mundo para trazer a paz tão ansiada!
Por isso, todas as pessoas do mundo e de todos os tempos foram depois contagiadas por essa alegria. E, daí, podem aparecer muitas figurinhas no presépio: de muitas profissões, regiões e de tempos mais antigos e mais actuais.
Assim, o presépio é uma maneira muito linda de recordarmos o nascimento de Jesus e do quanto Ele é importante para nós, nos trazendo Esperança num mundo melhor.
24/12/2024
Presépio na Montra – continuando
Mas como são cada vez menos, as figurinhas!...
23/12/2024
Presépio na Montra I – Nem que chovesse
*aberta = pausa na chuva até voltar a chover
22/12/2024
Presépio na Montra – introdução
Fui buscar as figurinhas do presépio ao sótão, onde estavam guardadas, desde que o presépio foi desmanchado depois do Natal passado.
O Gigante do Moinho das Sapatilhas (conto de Natal)
O Gigante, que lá mora, fora em tempos uma criança feliz, como qualquer criança. Mas quando começara a crescer demasiado, deixara de ter amigos por o julgarem diferente. Os colegas troçavam dele, fazendo piadas acerca do seu corpo grande e esquisito. E ele, ao sentir a rejeição, começou a ver-se com outros olhos, a notar que não era igual às outras crianças, às outras pessoas, e isolou-se do mundo, desenhando para si um outro mundo à sua medida. Os pais passaram a ser o seu único consolo. Estes, com todo o seu amor, protegiam-no, mimavam-no e faziam-no esquecer os colegas da escola que o haviam maltratado.
Começara a trabalhar no moinho, ajudando o pai a moer o trigo e o milho das freguesas e, depois que o pai falecera, assumira esse trabalho por inteiro. Restara-lhe a mãe ainda por algum tempo, mas depois esta partira também deixando-o ainda muito jovem. Desde aí não mais soubera o que era um carinho. A solidão era a sua constante companhia.
Continuava a transformar em farinha os pequenos grãos das mesmas freguesas de sempre, mas ninguém lhe dispensava mais do que as palavras estritamente necessárias. E ele fechava-se num mutismo azedo e carrancudo que assustava ainda mais. Não fosse a necessidade daquela bela farinha, produzida naquele luminoso moinho, e ninguém se daria ao trabalho de subir a colina.
Mas o Gigante não era só aquele monte enorme de ossos e músculos, de cara fechada e empoeirada de farinha, que às vezes até parecia um fantasma. Ele era sensível e sofria. A solidão doía-lhe no íntimo do seu coração cada vez mais apertado.
Os anos iam passando por ele monotonamente, numa sucessão de dias sempre iguais, tornando-o num jovem adulto a quem tinham sido roubados os sonhos. Não sabia o que eram festas, romarias, comemorar a Páscoa ou o Natal. Sabia que existiam, mas não tinha direito a isso.
Nesta altura do ano, ele apercebe-se, pelo frio que faz e pelas encomendas maiores de farinha, que o Natal se aproxima. E fica ainda mais triste e solitário, mais infeliz e revoltado, mais amargo e mal-humorado. Tão gigante e tão frio que a todos afugenta cada vez mais.
Mas aquele gelo andava prestes a ser quebrado.
E quebrou. Derreteu completamente, começando a pingar-lhe daqueles olhos da cor do mel, quando Maria, de sorriso a bailar nos lábios carnudos, lhe colocou nas mãos duas broinhas de Natal.
Todo o seu semblante se transformou, parecendo reviver nele a magia da sua infância. Aquela coleguinha, agora uma linda mulher, lembrara-se dele e viera para lhe colorir o seu mundo tão sombrio. Até parecia que os tristes raios de sol de Inverno, que entravam pelas frinchas do moinho, brilhavam com todo o ouro quente do Verão.
É por isso que agora ouço o Moinho das Sapatilhas entoar uma nova melodia ao vento.
Conto que escrevi e enviei para responder a um desafio denominado Projecto CrioNatal 2008, para um livro de Contos de Natal.
21/12/2024
Subir o Caminho VI
caem brancas e torcidas
sobre as palavras imperiais,
mordendo-lhes as raízes
como se fossem o contrário do que são,
fecham-nos a alma e ficamos sem saber
se as asas se quebram ou
se ficamos de pé à espera das próximas pedras.»
(José Maria Brito Sj)
20/12/2024
Regresso ao mundo I
Deu a volta à cama, aproximando-se da janela e ficou por momentos a espreitar pelas frestas, sem nada ver.
O coração queria saltar-lhe do peito, tal era a sua ânsia de a abraçar, de a beijar. Mas tinham-lhe recomendado que não a acordasse. Estava sob o efeito de sedativos pois os traumatismos eram muito grandes.
Olhou-a. O seu rosto tinha o mesmo encanto que o prendera, apesar daquela marca roxa do lado esquerdo.
Será que se lembraria dele?
- Quem está aí?... – perguntou Luísa num leve murmúrio.
Entreabriu os olhos e tentou fixar aquela silhueta luminosa que se encaminhava para si.
Ele não resistiu a pegar-lhe na mão, sem dizer nada.
Ela baixou novamente as pálpebras, deixando a sua mão naquela que a prendia, sentindo como se fossem duas gotinhas de água juntas num lago azul. Sonhava. O mundo parecia cantar.
18/10/2024
José Miguel
Manuela de Andrade, que descendia de uma família de brasão, quase obrigara o seu namorado Jorge Cardoso a casar com ela às pressas.
Depois, ela fizera-lhe sentir a sua vergonha ao saber-se grávida e ele cumprira o que lhe prometera, mais cedo do que contava. A juventude e a inexperiência fizeram pouco deles, por duas vezes.
Entre José Miguel e Ana Maria havia apenas a diferença de um ano e alguns dias, e a cumplicidade, talvez mais do que o sangue, a uni-los. Os sorrisos de um eram a alegria do outro, tal como as lágrimas de um eram a dor do outro. Desde cedo (mais entregues aos avós maternos do que aos pais, que achando a sua liberdade tolhida pelos nascimentos dos filhos, não se permitiram dedicar-se-lhes em grande parte, delegando muitos dos seus cuidados naqueles, com quem moravam) os dois irmãos refugiavam-se mais um no outro do que no colo dos avós ou dos pais. Frequentaram a escola juntos, até que o percurso académico divergiu. José Miguel estudou sempre no Porto e sentiu demasiado a falta de Ana Maria quando chegou a altura em que ela foi para Lisboa. Sentiu-se desamparado ao faltar-lhe a confidente sempre pronta a ouvi-lo, só a tendo nos poucos fins-de-semana que esta vinha passar com a família. Passou uns maus bocados, com os seus amores frustrados e com a falta da irmã, sem conseguir buscar o apoio no resto da família, mas sobreviveu.
Quando acabou a faculdade, a nova vida profissional de médico dentista levou-o para Coimbra. E é em Coimbra que volta a encontrar Luísa e que lhe sangra o coração outra vez.
10/10/2024
Fogo
Dali podia percorrê-la com o olhar quando saísse ou entrasse em casa. E enfim vira-a: bebera-a toda com o olhar. Tinha pensado que era quanto lhe bastava, mas encontrava-se pegado àquele assento, à espera de nova visão. Ela saíra, havia de regressar.
Quanto da vida se suspende de um contacto, ainda que só visual, à distância, mesmo que só um dos lados o saiba, o sinta, o aprecie!
Parecia tomado de febre quando levantou a cabeça para o espelho retrovisor e viu reflectido o seu rosto brilhante de suor, marcado pelo cansaço e pela indecisão. Viu-se o jovem que era, mas sentiu-se velho, ao notar as rugas a marcarem-lhe a testa. Sabia que era preciso construir o futuro, mas então, porque se detinha ante um passado que o prendia numa espécie de limbo, do qual não ousava sair? Queria olhá-la de longe, nem que só uma vez mais, e uma pequena felicidade lhe sorriria. Mas essa felicidade ser-lhe-ia suficiente? Se não podia ser de outra forma, sim, tinha de ser suficiente. Vê-la secretamente, saber que estava bem, encher-lhe-ia os olhos e acalmar-lhe-ia a alma.
Ainda desse modo se agitava quando a avistou de volta: magra, mas belíssima como a conhecera. Escorriam-lhe de cobre os cabelos levemente volteados sobre os ombros, enquanto que os olhos de luar se ocultavam por detrás dos óculos escuros – mas adivinhava-os – e eram fascínio e dor: promessa e recusa. Ali, ao alcance de uns passos: todo o seu tormento, a sua agonia – a sua vida.
04/10/2024
A única escolha
São as palavras que se calam as que, por vezes, mais doem. Doem como fazem doer as fracturas expostas. E muitas vezes são nódoas negras que aparecem depois de uma pancada. As que ela calara eram tudo isso e muito mais: eram ferida aberta que, por mais curativos que quisesse inventar, não cicatrizava.
Naquela altura não pensou que seria assim. Achou que ficaria tudo bem, que ficaria tudo melhor se se calasse, e que o tempo seria seu aliado. Mas agora, depois dos traumatismos que sofrera em consequência do acidente, olhando para as nódoas negras do seu corpo, que ainda mal se queriam disfarçar, pensava nas outras que tinha por dentro e que lhe doíam na alma. Estivera do lado de lá da vida. E regressara. Agitava-se agora numa convulsão, ao pensar que aquelas palavras não ditas poderiam ter morrido com ela. Palavras em carne viva, que lhe eram sangue escorrendo dolorosamente da ferida recentemente acesa. Sim, tinham sido nódoa negra de sangue pisado. Agora eram chaga com sangue vivo que se lhe vertia para dentro em catadupa e lhe revolvia as entranhas até a sufocar num vómito aflitivo. Chorar, por vezes resolve; mas outras, nem por isso. E chorar não resolvia a sua dor. Tinha que falar. Tinha que o procurar e falar.
Depois de ter despertado de todo um emaranhado de alucinações, tomara consciência de que o tivera outra vez e que, outra vez, o perdera. Se ele tivesse voltado, talvez que não lhe tivesse sido difícil dizer-lhe tudo. Mas ele não voltara. Não voltava. A espera era inútil. E só ela e Deus sabiam o quanto lhe doía tudo. Tudo.
As palavras que se calam agigantam-se dentro do peito e chega uma altura em que têm de eclodir. Mesmo que façam doer ainda mais do que doem. Mas, se para sarar uma ferida tiver que doer ainda mais, que doa! Assim é que já não podia continuar. Falaria. Falaria tudo o que havia para falar. Tudo. Até à última lágrima. Até à última gota de sangue.
Engoliu a enchente de lágrimas misturadas com essa decisão e foi em frente. A vida tinha-lhe dado outra oportunidade que não podia desperdiçar. Só tinha uma hipótese: ir.
02/10/2024
Asa ferida
Tivera uma efémera felicidade que ainda lhe corria nas veias, lhe percorria as artérias, lhe inundava o cérebro, ao mesmo tempo que se transformava num regato de solidão. “Os lugares dos outros atingem-nos na nossa insegurança!” – Era o pensamento que o levava a um lago parado: um lugar que não estava vago, que era habitado por cisnes brancos, onde não cabia um patinho feio.
Contudo, não conseguia evitar de a imaginar no voo das gaivotas. As gaivotas e os sonhos possuem a liberdade de voar por entre as nuvens, indiferentes à agrura da viagem, apenas sentindo o odor a maresia no arco-íris que perseguem. O voo das gaivotas é sustentado pelas asas; são elas a segurança do voo no sopro do vento.
Mas nem ele era uma gaivota nem as suas asas lhe permitiam voar. Era um patinho feio de asa ferida, que tinha sido atingida na sua ainda débil segurança. Não, não podia aventurar-se no voo - as suas asas mal lhe amparavam a fuga.
09/09/2024
Fuga
Quando tinha 23 anos deixara-se envolver, perdidamente, num romance dourado com a sua professora preferida daquele segundo semestre, a mais bela das mulheres, que agora, passados quase três anos, estava ali deitada naquela cama do hospital, com os filhos a cobri-la de beijos, depois de ter estado entre a vida e a morte.
Como era possível que não soubesse nada da sua vida, que tinha filhos, marido?...
Este pensamento atormentou-o. Se tinha filhos, devia haver um homem que a amava... porque não estava ele aqui? Não conseguiu acalmar a agitação provocada pela ideia de que outro homem, apesar de ausente, preenchia um lugar a que ele não tinha direito. "Eu não posso passar sem ela, não agora que a reencontrei."
Mas a verdade é que ela o tinha deixado... sim, claro, havia outro homem... o menino mais pequeno não teria 2 anos e o mais velho uns 7. Como pudera ser tão inocente? Que fazia ele ali, então? Só conseguiu, de momento, imaginar uma solução: iria embora.
Talvez que ela tivesse gostado realmente dele, mas as circunstâncias tinham-nos levado por caminhos diferentes, apesar de agora se terem voltado a cruzar... não, não sabia porque o destino os pusera de novo frente a frente... não sabia como a encarar de novo.
Isto estava a produzir-lhe um turbilhão de sensações confusas, contraditórias, que lhe tornavam dolorosa a sua permanência ali. Afastar-se-ia... rapidamente, antes que se arrependesse.
Deitou um último olhar àquele quadro, enquanto se dirigia à porta, sentindo-se estilhaçar todo por dentro.
Talvez voltasse... ou então não.
08/09/2024
Finalmente
07/09/2024
O reencontro
02/09/2024
Regresso ao mundo III
Sempre a mesma desculpa. E sempre o mesmo peso na consciência. E sempre o mesmo amor teimoso a não dar tréguas nem sossego. Tanto tempo já passado e tantas lutas para que a tranquilidade visitasse o seu coração, e até parecia que, à medida que o tempo passava, a inquietação se instalava mais.
Tinha ficado de tal modo atrapalhada ao avistá-lo ao longe, que não reparara no automóvel a grande velocidade e se deixara atropelar, quase mortalmente. Fora um milagre ter acordado daquele coma profundo, depois de ter sido dada como morta.
A sua primeira preocupação tinha sido com os seus meninos e pedira socorro para eles, mas acordara com José Miguel na memória, talvez devido ao facto de ele nunca de lá ter saído. Ele era o seu constante pesadelo.
Quando sentiu uma respiração quente a acariciar-lhe o rosto, o pesadelo suavizou, mas nada daquilo podia ser real. Não podia ser… já sonhara aquele sonho tantas vezes... Era somente um produto da sua mente perturbada que insistia em atormentá-la.
No entanto, aquele beijo parecia tão verdadeiro que não queria acordar. Perfeita alucinação em que mergulhara e que lhe transmitia um bem-estar interior tão intenso que queria que perdurasse, para não ter que dar ouvidos aos remorsos de o ter deixado, sem lhe contar a verdade, e que não a largavam nunca.
Poderia ele perdoar-lhe?
22/08/2024
Regresso ao mundo II
O mundo tinha parado e José Miguel, de olhos fechados, saboreava com sofreguidão aquela embriaguez dos sentidos que se apoderara dele, enquanto o seu peito arfava de comoção.
Não conseguindo aguentar, foi deslizando a sua mão pelo braço nu da sua amada, num bailado de arrebatadora paixão.
Sentia-se um pecador, mas o desejo foi mais forte. Pousou os seus lábios naqueles que o chamavam com um misto de veludo e seda, primeiro com toda a suavidade, depois, sentindo-os entreabrirem-se, fundiram-se neles numa entrega inevitável e plena de êxtase.
O beijo quente e apaixonado fez-lhe reviver alvoroços perdidos no fundo de um baú. Mas aquilo parecia-lhe uma violação. “Perdão, meu amor…”, foram as palavras que lhe afloraram à mente. E afastou-se. Afastou-se sem se poder saciar naquela boca, que tantas vezes tinha povoado os delírios das suas noites. Afastou-se sentindo um arrepio profundo a inundá-lo, até lhe deixar as mãos trémulas e a cabeça à roda. E, de repente nauseado, antes de ter tempo de procurar onde se sentar, notou que o chão lhe fugia…
As emoções tinham sido muitas e demasiado fortes nos últimos dias, e aquela vertigem, que lhe tirou momentaneamente os sentidos e o atirou ao chão, era o resultado disso.
“Luísa… oh, Luísa… tanto te esperei!...”
06/07/2024
Cor matinal
21/06/2024
Sombras IV
Mergulhou o rosto entre as mãos e abafou os soluços que lhe saltavam do peito. Olhou a foto uma vez mais e percebeu o seu coração a bater pesadamente.
Ai, o coração... como batia forte quando, tímidos, os seus passos o levaram até ela!
Fora ficando fascinado com o seu sorriso, que exalava o perfume das flores abertas ao sol da manhã. Os seus olhos transbordavam lagos verdes de uma perene sedução; os cabelos ondeavam reflexos quentes do sol e todo o seu corpo se movia nessa luz.
Inflamado de paixão e sedento de amor, o seu olhar traiu o que o seu peito encobria. E nesse lume aceso arderam os dois, quando os seus lábios se roçaram...
“Amo-te..." - Ainda ecoava aos seus ouvidos.
- Porque me abandonaste depois da mais bonita noite de amor que me deste? - Soluçava - Senti tanto a tua falta!... Perdi-te... e agora perdi-te para sempre! Fazes-me tanta falta…
Sentia-se inundado por um sentimento de perda irreparável. A esperança que lhe permitira caminhar, toda se esfumara agora como um feitiço quebrado.
Seguira com a sua vida. Concluíra o curso e tivera as suas aventuras, mas não se ligara a ninguém. Os seus sonhos residiam na reconstrução daquele castelo desmoronado. Castelo esse que agora se diluía em pó.
Mas, no meio da nuvem de poeira negra, brilhavam duas pedras preciosas que não sabia que existiam. Agora arrancaria força dos escombros do seu peito para, com elas, alicerçar um novo e dourado castelo.
18/06/2024
Sombras III
14/06/2024
Sombras II
Hoje resolvera procurá-la nos lugares onde ela os costumava levar. Não tinham mais ninguém em casa. Sentia muito a falta da sua mamã. Tinha medo que lhe pudesse ter acontecido alguma coisa de mal.
O pequenino pedia a mãe. Pegou-lhe ao colo e acarinhou-o como se fosse filho seu. Adormeceu-lhe no regaço enquanto o acariciava. O outro encostou-se-lhe também e sentiu-se invadir de uma ternura imensa. Estes pequeninos precisavam de alguém que olhasse por eles, que lhes encontrasse a mãe, que os protegesse, tão indefesos e carentes estavam, e tão à mão de predadores, alheios ao perigo que corriam. Tinha que fazer alguma coisa.
Entrou com eles na igreja enquanto o mais pequenino dormia e ficaram um pouco em silêncio naquela penumbra refrescante. Pediu ajuda à Virgem. Era preciso fé e esperança.
Mais tarde, levou-os a lanchar e acompanhou-os a casa, talvez a mãe já lá estivesse. Não estava. Viu fotos... e o seu sangue gelou e ferveu... procurou nomes, telefonou. Fez-lhes o jantar e comeu com eles. Tranquilizou-os, encontraria a mãe! E adormeceu-os contando-lhes uma história.
Fez mais telefonemas. Sim, estava ali… meu Deus, deveria ser ela! Sentiu-se invadir por uma convulsão incontrolável, um sentimento de perda irreparável, um vazio sem esperança. Agora estes meninos não tinham ninguém, não tinham mais ninguém senão a si... e tomou a decisão: seria o seu pai. O pai que eles pareciam não ter.
10/06/2024
Sombras I
29/01/2024
A Casa dos Ratos — intermezzo (8)
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