Cresci.
E o que é que se ganha em crescer? Ter doze anos já não é o mesmo que ter dez ou onze. É verdade que eu já não queria ser uma criancinha pequena e gosto que me olhem como uma rapariguinha crescida, mas às vezes é uma chatice. Chatice e não só. Também dói. Agora, depois de ser menstruada pela primeira vez, já sei que ser mulher também dói. E muito. Quando isso aconteceu, na semana passada, doeu tanto, tanto, que eu não sabia o que fazer para que as dores parassem; estas eram maiores do que a vergonha que tive de engolir para pedir ajuda à mãe. E ela, em vez de me ajudar logo, até parece que ficou com um sorriso de troça: “Ah, isso é o sinal da mulher.” O sinal da mulher, o sinal da mulher…, isso sabia eu! Não que ela alguma vez me tivesse dito alguma coisa; se não tivesse sido a avó, enquanto ainda vivia, a falar comigo de mulher para mulher, seria apanhada desprevenida e o choque seria bem maior. Só que a avó não me disse que dava dores assim tão insuportáveis. E eu rebolava em cima da cama e no chão sem encontrar posição nenhuma que me desse algum conforto. Depois a mãe lá me arranjou uma toalha quente para pôr em cima da barriga, e as dores lá foram amainando. De cada vez que penso nisso começo a temer a próxima vez.
(Publicado em: Memória Alada, 2011)