Uma porta que se fecha pode ser uma janela que se abre. Uma corrente de ar repentina: um sopro mais forte de vento que escancara esta e obriga a fechar aquela; ou um vácuo que se cria pelo trancar da porta que obriga a janela a dar de si. Seja como for: janela que se abra para bater com a porta ou porta que se feche para que o ar entre pela janela, o mundo não pára para acontecer.
Assim sucedera mais ou menos com Luísa: o fecho de uma porta; uma janela aberta. E um mundo lá fora à espera; e outro a nascer-lhe nas mãos. Mundos diferentes que lhe respiravam na pele e lhe transpiravam no olhar.
Por uns tempos ficara para trás a Faculdade e a sua vida de docente, para dar lugar a uma vida doméstica, quase de reclusa.
Os sogros, dois filhos a crescer - um a pular pela casa e outro a pular dentro de si - traziam-lhe os dias de tal modo preenchidos que não tinha tempo para pensar em nada mais.
Tinha sentido alguma dificuldade e apreensão inicial para contar da gravidez aos seus velhinhos, mas eles até haviam reagido melhor do que contara. Lembrava-se das palavras que a sogra então lhe dissera: “Filha, fizeste um grande disparate, sabes disso?”. Ela assentira, corada, pedindo-lhes que não a mandassem embora. E respirara fundo, aliviada, quando eles, olhando um para o outro, lhe disseram que se ela precisava deles, eles também precisavam dela.
Foi assim que Luísa passou a morar ali naquela casa grande: não só essa porta não se lhe fechara como, por entre as cortinas das suas janelas abertas, o sol lhe fora trazendo alguns sorrisos.
Tinha consciência de que fizera grandes disparates… mas, ainda assim, achava que maior disparate teria sido nunca se ter permitido amar.