E eis a fonte. Coberta de heras, revestida de musgos. O lastro quase repleto de agriões. Será que ainda tem água dentro, ou terá secado ou escoado toda pelas frestas? O que estará por detrás das janelas de olhar furtivo? Água? Ou apenas fantasias de outras eventualidades?
Um mundo abandonado, escorrido; leito de prantos, de confidências, calores, alvores e… também maledicências. Era uma bacia à cabeça com um alguidar emborcado em cima da roupa suja e, às vezes, também um cântaro debaixo do braço: assim se fazia o caminho, pelo calor ou de madrugada, para que a barrela voltasse bem asseada. Na pia roupa molhada, na pedra a roupa esfregada e batida, depois passada e torcida, pronta a ser estendida para secar no estendal… Aqui se lavaram roupas e outras vidas; se branquearam linhos e outras tendas; se despejaram sujidades e se debateram contendas; aqui chegaram panos com nódoas e foram corados ao sol; farrapos foram rasgados por não terem mais lavagem; braços e pernas se molharam, mas nem sempre se banharam; bocas entraram mudas mas não partiram caladas; por aqui passaram gentes desassombradas e outras que se viram marcadas por ferrões e ferroadas de moscardos e de vespas, mas também de palavras proferidas sem dó nem piedade: as mulheres quando se juntam “cai o Carmo e a Trindade”. Uma fonte de água pura, fresquinha para beber, onde tantas vezes vim encher o barrilito de barro; e nem essa água, apetecida e leve, lavou bocas encardidas, que só se sabiam bem entretidas a falar na vida alheia. Que fonte esta, sempre tão cheia e agora tão vazia!…
Um mundo abandonado, escorrido; leito de prantos, de confidências, calores, alvores e… também maledicências. Era uma bacia à cabeça com um alguidar emborcado em cima da roupa suja e, às vezes, também um cântaro debaixo do braço: assim se fazia o caminho, pelo calor ou de madrugada, para que a barrela voltasse bem asseada. Na pia roupa molhada, na pedra a roupa esfregada e batida, depois passada e torcida, pronta a ser estendida para secar no estendal… Aqui se lavaram roupas e outras vidas; se branquearam linhos e outras tendas; se despejaram sujidades e se debateram contendas; aqui chegaram panos com nódoas e foram corados ao sol; farrapos foram rasgados por não terem mais lavagem; braços e pernas se molharam, mas nem sempre se banharam; bocas entraram mudas mas não partiram caladas; por aqui passaram gentes desassombradas e outras que se viram marcadas por ferrões e ferroadas de moscardos e de vespas, mas também de palavras proferidas sem dó nem piedade: as mulheres quando se juntam “cai o Carmo e a Trindade”. Uma fonte de água pura, fresquinha para beber, onde tantas vezes vim encher o barrilito de barro; e nem essa água, apetecida e leve, lavou bocas encardidas, que só se sabiam bem entretidas a falar na vida alheia. Que fonte esta, sempre tão cheia e agora tão vazia!…
Será que ainda tem água dentro, será que a nascente ainda não secou? Espreito a uma janela: nada, está seca; espreito a outra: esta está cheia. Experimento abrir a torneira que lhe fica abaixo: ainda não enferrujou muito e escorre. O Snoopy aproveita para beber. Eu não me aventuro a tanto. Ainda há água!, ao menos para o Snoopy. Porque “até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.” (Mt. 15, 27)
Como Pedro, também Te digo:
Salva-me, Senhor!
Tenho medo de andar sozinho
Mas, creio que és Salvador.
Nas águas da minha vida
Agitadas pelo vento
Eu não posso navegar
Se não estiver atento.
Tu vens sempre ao meu encontro
Eu é que não te reconheço
Mas quando Tu te revelas
Humilde, Te agradeço.
Sou um homem pecador
Mesmo assim Tu me salvas
Das quedas de que sou autor
És sempre Tu que me levantas.
Nos meus medos e receios
Para Ti, Senhor, me volto
Nas minhas dúvidas e anseios
Diante de Ti me prostro.
E quando Te reconheço
Nada me pode abalar
Só em teu braço seguro
Eu me posso ancorar.
(Pe. José António Carneiro)