24/03/2023

Pontos nos iiiiiiii


Arrefeceu. De repente. Num dia estávamos sob calor escaldante, no outro dia já debaixo de uma tempestade glacial. Foi um pulo de gato. Um salto de pardal. 
De Verão para Outono, uma negaça do sol, uma pirraça da lua. Um gesto que me sonega a estrada ao fim da rua e o norte, a leste de ser tua. 
Lá longe, onde moram os poemas, o tempo veste a roupagem do mar; e vem mostrar-se numa luz de olor e arrepio, num misto de sono e despertar, de calor e de frio. Do longe se faz perto. Mas por mais que se tente prolongar o calendário, ele não estica como se desejaria. E cai o vermelho levemente esborratado em sombras; e o azul projecta-se em choro de metáforas no vento. 

Vem. Dança à chuva de melodias de partida; numa chegada breve, mais fugaz que de fugida; num sopro só de vinho e de alento. 
Vem. Não partas, ainda, triste. Saboreia o sal: a dádiva que banha os rostos quentes em sobressalto. Ainda que abstractamente, mente-me sem dor. Deixa-me com uma nesga de calor. Diz-me que há sol, e luar, e que, apesar das nuvens, há gente nobre e quente, que sabe aquecer um coração dormente. 
Porque arrefeceu. De repente.

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