A tarde de Outono começou a fazer-se lua – redonda, grossa – que uma multidão de nuvens prenhas, de ancas largas e de peitos túrgidos, começaram a empurrar para o fundo do céu, fechando-a numa noite temporã. Ela ainda experimentou espreitar por entre umas cortinas que o vento ajudou a arredar, mas não teve forças para fazer frente àqueles bustos inchados que impunham respeito.
Depois de assim vendarem os olhos à lua, estas monstras começaram a guerrear umas com as outras com um leve rosnar intensificado até à discussão séria, empurrando-se e acotovelando-se, discutindo assanhadamente e deitando fogo pelas ventas como toiros, numa ânsia desenfreada de encontrarem lugar para parir. E o céu explodiu em raiva sobre o bosque de eucaliptos que não tinha culpa de nada.
Carregado de medalhas ao peito e de cigarro na boca, foi apanhado naquela confusão pelo caminho enlameado de regresso ao casebre, que ficava para lá daqueles arvoredos, e resmungaguejava contra aquela bátega que o molhou dos pés à cabeça. Se ele soubesse tinha ficado em casa da irmã. “Eeela beeem qqquuue m’aaaaviiiisô!”
Na noite de raios e coriscos, as árvores tomaram formas humanas de cabeçudos gigantes com narizes pontiagudos e dentes arreganhados, que gargalhavam amedrontando o incauto que atravessava naquela hora.
Quem era esta personagem quase descartável, que ali dançava como uma folha de papel soprada pelo vento? Será que deixaria para sempre as suas pegadas naquela lama do caminho? Porque há pessoas que marcam bem a sua passagem pelo tempo.
(M. Fa. R. - 09.12.2009)
Depois de assim vendarem os olhos à lua, estas monstras começaram a guerrear umas com as outras com um leve rosnar intensificado até à discussão séria, empurrando-se e acotovelando-se, discutindo assanhadamente e deitando fogo pelas ventas como toiros, numa ânsia desenfreada de encontrarem lugar para parir. E o céu explodiu em raiva sobre o bosque de eucaliptos que não tinha culpa de nada.
Carregado de medalhas ao peito e de cigarro na boca, foi apanhado naquela confusão pelo caminho enlameado de regresso ao casebre, que ficava para lá daqueles arvoredos, e resmungaguejava contra aquela bátega que o molhou dos pés à cabeça. Se ele soubesse tinha ficado em casa da irmã. “Eeela beeem qqquuue m’aaaaviiiisô!”
Na noite de raios e coriscos, as árvores tomaram formas humanas de cabeçudos gigantes com narizes pontiagudos e dentes arreganhados, que gargalhavam amedrontando o incauto que atravessava naquela hora.
Quem era esta personagem quase descartável, que ali dançava como uma folha de papel soprada pelo vento? Será que deixaria para sempre as suas pegadas naquela lama do caminho? Porque há pessoas que marcam bem a sua passagem pelo tempo.
(M. Fa. R. - 09.12.2009)
14 comentários:
... seja quem fôr, nem lhe passou pela cabeça o que esteve na origem de tamanho vendaval que o apanhou de passagem.
Muito interessante o relato das "hostilidades" celestes.
Beijos e sorrisos.
Quando as forças celestiais entram em confronto há borrasca pela certa.
Gostei da tua descrição.
excelente passagem ou jogo perfeito de mãos descritos no feminino//masculino
.
um beijo
Para além da qualidade da tua narrativa, aprecio a tua capacidade de síntese.
Daí que, no meu humilde ponto de vista, este texto não esteja bom, mas excelente.
Bom resto de semana, querida amiga.
Beijos.
marcar o tempo de uma forma permanente mas construtiva é algo que nem todos conseguimos fazer.
Um texto muito interessante!
Desejo um Natal feliz com muita Paz e Amor e um 2010 com muita felicidade
Gosto da sua forma de escrever. Mas já lhe disse isto, não é? :) Feliz Natal, excelente Ano Novo!
Fá,
Há pessoas que marcam a sua passagem pelo tempo, como há pessoas que marcam a sua passagem pela nossa vida.
Bjs.
Agradecendo e retribuindo votos de um Santo e Feliz Natal.
Beijinhos,
Ana Martins
Adoro este blogue.
Bom Natal e um 2010 cheio de esperança.
Anad
Natal.Desejo que haja um nascimento de felicidade em cada minuto da tua vida:) Beijinhos
Pj
Realmente....há quem marque para sempre o nosso caminho...de todas as formas, mas marcam para sempre e muitas vezes nem mesmo sabemos porquê.
Ótimo texto...
*
Belo texto,
em fá maior . . .
,
conchinhas,
,
*
Olá Fa Maior!
Esta "PASSAGEM" não foi sussurrada por um ser menor, antes por seres que andam de braço dado com a descoberta.
Mantém a menina que há em ti, aprende a lidar com os teus mimos e verás que "naquela linda manhã, estando a brincar no jardim..." a morte não mais existe porque ela não é senão a última fase da vida.
Beijinho e ... não tenhas medo!
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