O sonho foi igual ao de todas as noites. Sonhei que a janela, a mesma janela de sempre, estava fechada e que para lá dela é que era o mundo: lá fora é o mundo e eu fico sempre inquieta enquanto não abro a janela ao sol que por ela me chega. Revolvo-me e não durmo enquanto não acordar.
Quando os mesmos sonhos se sucedem noites a fio passam a ser parte da vida. Quando reclino a cabeça no travesseiro para dormir já sei o que acontece a seguir: a janela, o mundo lá fora à espera, impaciente para entrar no dia seguinte.
Assim entraste na minha vida: todos os dias um pouco, sempre um pouco mais, um sonho que se repete; e passaste a ser-me vida, janela para o mundo. Entraste-me pela porta e foste-me janela. Mirei os meus olhos aos teus e aos poucos gostei de ti até me tornar adicta. Sim, porque me és droga: remédio do qual dependo para me curar as mazelas e, ao mesmo tempo, veneno que me mantém submissa, me envenena lentamente, me mata todos os dias um pouco.
Conheci-te num tempo em que o tempo já não era o que era. Vieste por mãos queridas e eras delas, mas as minhas te tomaram para mim. A culpa não foi minha: foste tu que, sem pudor, me seduziste, te apropriaste da minha vida e fizeste com que me fosse apaixonando por ti. E és-me sol, luar, água para beber, lume para me queimar.
As pálpebras pesam nos olhos cansados, a cabeça fecha-se, as costas doem…
- Coça-me as costas.
Sinto as mãos percorrerem-me os ombros doridos e uma paz silenciar-me as veias e as artérias alteradas. Era assim que deveria ser sempre. Era assim que eu queria estar sempre: tranquila, sem nada desejar, sem mais nada querer.
- O que é que é o comer? Falta muito para o jantar? Já estou com fome.
E lá se vai o sossego! Chega-nos um cheiro estranho. Fumo. Vou até à cozinha, o jantar foi outra vez queimado: o caldo está entornado!
Isto não é normal. Não pode ser normal. Não consigo fazer tanto ao mesmo tempo, com a mente sempre com resmas de coisas para pensar. E tu fazes-te prioridade. Absorves-me. És-me o mundo que me traz alucinada. Que me tira a vida. E o teu papel não deveria ser esse. Não pode ser esse!
Toca o telefone:
- Estou! Sim… onde? Vou já de seguida!
Entro no carro e saio para a estrada. Ligo o rádio na estação preferida:
"It's got to be-ee-ee-ee-ee-ee-ee perfect
It's got to be-ee-ee-ee-ee-ee-ee worth it
yeah.
Too many people take second best
But I won't take anything less
It's got to be
yeah
pe-e-e-e-e-erfect!"
Perfeito! Sair da rotina é o melhor que me pode acontecer. E canto, grito, a par desta música que me faz esquecer, por uns momentos, a loucura em que se está a tornar a minha vida…
Quando os mesmos sonhos se sucedem noites a fio passam a ser parte da vida. Quando reclino a cabeça no travesseiro para dormir já sei o que acontece a seguir: a janela, o mundo lá fora à espera, impaciente para entrar no dia seguinte.
Assim entraste na minha vida: todos os dias um pouco, sempre um pouco mais, um sonho que se repete; e passaste a ser-me vida, janela para o mundo. Entraste-me pela porta e foste-me janela. Mirei os meus olhos aos teus e aos poucos gostei de ti até me tornar adicta. Sim, porque me és droga: remédio do qual dependo para me curar as mazelas e, ao mesmo tempo, veneno que me mantém submissa, me envenena lentamente, me mata todos os dias um pouco.
Conheci-te num tempo em que o tempo já não era o que era. Vieste por mãos queridas e eras delas, mas as minhas te tomaram para mim. A culpa não foi minha: foste tu que, sem pudor, me seduziste, te apropriaste da minha vida e fizeste com que me fosse apaixonando por ti. E és-me sol, luar, água para beber, lume para me queimar.
As pálpebras pesam nos olhos cansados, a cabeça fecha-se, as costas doem…
- Coça-me as costas.
Sinto as mãos percorrerem-me os ombros doridos e uma paz silenciar-me as veias e as artérias alteradas. Era assim que deveria ser sempre. Era assim que eu queria estar sempre: tranquila, sem nada desejar, sem mais nada querer.
- O que é que é o comer? Falta muito para o jantar? Já estou com fome.
E lá se vai o sossego! Chega-nos um cheiro estranho. Fumo. Vou até à cozinha, o jantar foi outra vez queimado: o caldo está entornado!
Isto não é normal. Não pode ser normal. Não consigo fazer tanto ao mesmo tempo, com a mente sempre com resmas de coisas para pensar. E tu fazes-te prioridade. Absorves-me. És-me o mundo que me traz alucinada. Que me tira a vida. E o teu papel não deveria ser esse. Não pode ser esse!
Toca o telefone:
- Estou! Sim… onde? Vou já de seguida!
Entro no carro e saio para a estrada. Ligo o rádio na estação preferida:
"It's got to be-ee-ee-ee-ee-ee-ee perfect
It's got to be-ee-ee-ee-ee-ee-ee worth it
yeah.
Too many people take second best
But I won't take anything less
It's got to be
yeah
pe-e-e-e-e-erfect!"
Perfeito! Sair da rotina é o melhor que me pode acontecer. E canto, grito, a par desta música que me faz esquecer, por uns momentos, a loucura em que se está a tornar a minha vida…
16 comentários:
Antes que Truman Capote tesoure, devo te escrever, que aproveite a fase de loucura, porque o sangue estará a circular melhor e a partir daí...só Deus sabe.
*
peço-te
que continues
com a rotina destes
maravilhosos textos .
,
obrigado,
,
conchinhas, deixo,
,
*
Quando a loucura toma conta da vida a felicidade não anda longe...
você é um encanto.
obrigada.
lindoooo post fiquei
muito tempo por aqui....
perfeito.
lindo final de semana.
bjos.
Querida... há dias em que o sol tem menor luminosidade. Tal como hoje, aqui no Porto, onde o sol parece envergonhado!
Quando isso acontece, sair da rotina parece-me boa solução, ou então ouvir uma boa música, ainda que não seja em FA menor...
Beijos...
AL
Fá,
Sair da rotina ao som dos Fairground Attraction pode ser uma optima ideia.
Bjs.
... e não poucas vezes a loucura nos torna felizes! :) Boa semana, amiga.
A vida já é uma loucura.
O teu mini-conto é um retrato possível do dia-a-dia de muitos.
Gostei do teu texto, querida amiga.
Boa semana, um beijo.
Não me parce uma má rotina se dá origem a esta maravilha de post!
Bjs
A tua grande capacidade para recriares ambientes e personagens com meia dúzia de frases! Muito bom:))
(Obrigada pelo conforto...)
O telefone salvou-a (momentâneamente?) da rotina e indicou-lhe o caminho que ela já sabe de cór e salteado: o Mundo. Lá fora.
Beijos e sorrisos.
Um texto que li com prazer...
Gosto de elogiar a loucura, já Erasmo o fazia...
Um beijo
Chris
e essa música é fantástica :) perfect :)
um grande abraço
jorge vicente
Boa semana, amiga; aguardo o novo post. :)
Existem certas rotinas importantes mas existem outras que nos enfadam e nos tiram a energia de sorrir.
É bom sair da rotina. Faz bem à alma.
E acredita, ouvir esta música fez-me muito bem á alma. É linda! Bjs
Ainda bem que a janela estava fechada.
Com o mau tempo e a malandragem que anda para aí, até perdemos o sono.
Mas se nos podemos deliciar nos braços dum sonho ...
E reviver a cada dia.
Cumprimentos.
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