Deitou-se ao pé da gaiola dos ratinhos, como quem estivesse à sombra, como se ela fosse um porto de abrigo que o protegesse de raios abrasadores e de outros incómodos tais quais pragas rogadas, assombramentos ou pavores.
Mergulhou numa nostalgia letárgica e assim se deixou estar tempos infindos, sem sequer se lhe ouvir um ronrom. Parecia que o seu mundo tinha parado ali. Estava cansado. Cansado de correr atrás de quimeras, e os ventos sempre contrários. Pobre bichano, como até a um gato a vida pode fazer negaças!
Inspirou fundo e soltou depois o ar num suspiro soluçado. Agora não queria nada, mais nada, nada mesmo. Só um vazio sossegado. Enroscou-se mais, escondendo a cabeça debaixo das patas dianteiras, e deixou-se ficar, sem desejo algum.
Não tardou muito que o arrulhar de uma rola lhe viesse perturbar o inconsciente. Ah, as rolas! Meninas bonitas, as malditas, sempre com os seus rucrruu rucrruu a chamá-lo! E ele a começar com água a crescer-lhe na boca. E o rucrruu rucrruu a aproximar-se, e ele, pata ante pata, cada vez mais perto… um pulito sorrateiro e zumba! A mordida no pescoço foi certeira e fatal. Abraçado a ela, sorveu o sabor meio salgado que lhe escorria por entre os dentes, cuspiu as penas, fungou… acordou. Soube-lhe bem. O sonho viera dizer-lhe que tinha que voltar à caçada, porque gato que é gato não fica assim apático e desanimado.
Agora ia poder dormir o seu sono solto, de olho naquela fresta da gaiola.
18 comentários:
Mergulhada
numa
nostalgia letárgica
estou eu...
e, assim gostaria de
ficar, tempos infindos!
Obrigada pela partilha.
Boa semana.
Um beijo
Na bela e bucólica
povoação de Barriosa,
na freguesia de Vide,
e a bordejar o rio,
encontrei um lugar paradisíaco,
com belas cascatas de água,
açudes
e uma bela praia fluvial
favorecida por uma magnífica paisagem envolvente,
com uma magia especial.
um conto que me deixa no silêncio privilegiando a voz da leitura que entoa um agradável sossego ao sentir cada palavra escrita.
parabéns, Fa!
fico a aguardar novo capítulo.
bj...nho
É como visualizar cada cena do seu texto .Minha vizinha tem uma gata que
me faz lembrar seu texto.
Beijos e ótima semana!
Gato que é gato nunca se fica por menos. Vai à luta e sempre arranja caça...
Gosto da vida que corre nestas linhas
Pensei que estes gatos já estavam extintos.
É bom saber que ainda não estão extintos e mantêm o instinto (escrita propositada), pena que não cacem ratos... já que a rola merecia uma frigideira com molho de manteiga.
Cumprimentos do mesmo de sempre
Não tens ideia de como aprecio estas tuas narrativas...gosto mesmo muito de ler-te.
Beijinho
gato que é gato até sonha que está a caçar...
gato que é gato, dorme de dia para caçar de noite
abrazo
Até que enfim o Tonecas se deu bem... ainda que em sonhos. Boa semana, Fa!
Gato em ação, beijo Lisette.
Minha querida
Pobre Tonecas...só lhe restou sonhar, ainda é um sortudo.há quem nem isso tenha.
as tuas entrelinhas falam tanto.
Um beijinho e bom fim de semana
Sonhadora
Este gato tem muitas semelhanças com o povo português, não é mesmo?
Será que acordamos algum dia? Ou vamos ficar eternamente à espera que a fresta se feche de vez?
Um abraço e bom Domingo.
Ainda bem que o meu gato não se fica pelos sonhos...
Bjs
.
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. quando sonhar é também . um olho.entre.aberto . sobre o apetecível .
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. :) .
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. um beijo meu .
.
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Algo de semelhante com o que diz respeito a este povo....Falas nas entrelinhas e muito bem....
Gostei imenso
Bom domingo
Bjgrande do Lago
OI FA!
GRATA POR TERES IDA NO "SÓ PRA DIZER" ME DANDO A OPORTUNIDADE DE CONHECER TEU ESPAÇO QUE ALIÁS, É MITO BONITO.
GOSTEI DE TEU TEXTO, ESCREVES MUITO BEM.
ABRÇS
http://zilaaniceli.blogspot.com.br/
Belo e esperançoso!!
Beijos querida!
Vida de gato nem é má. Pode "mergulhar numa nostalgia nostálgica" e ronronar até se fartar...
Fá, tem um bom resto de domingo e uma boa semana.
Beijo, querida amiga.
Sempre de olho na próxima aventura... real ou imaginada!...
O Tonecas é incansável!... :-)
Adorei o texto, Fá! Um beijinho grande!
Ana
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