Escuto mas não sei
Se o que ouço é silêncio
Ou deus
Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita
Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Acho que vou aventurar-me um pouco mais para cima, quero conhecer este lado do caminho.
Começo, na dezena, os Mistérios Gloriosos. Subo mais um pouco para lá da curva, o que estará para lá? Será alguma estrada que vire depois à esquerda, para ir dar àquela capelita? Mas não, não encontro nenhum indício disso. Agora é a direito em estrada de areia lavada pela chuva; ali mais à frente vislumbro uma cortada à direita, quem sabe se não irá desembocar num outro caminho, do lado de baixo, que eu conheça? Experimento. Até porque é já um pouquito tarde para voltar para trás antes que se faça noite. Sigo por aí, é sempre a curvar à direita; sim, deve ir dar lá a baixo. Aperto o passo, afoitando-me por este caminho de sulcos de rodas de tractores, por entre pinheiros e matos.
Nem dou pelo que a floresta pode em si encerrar. As florestas e os matagais são mães e pais de muitos bichos: rastejantes, roedores; com asas; corredores; dos que trepam às árvores; dos que perfuram a terra; dos que têm tocas; dos que fazem ninhos; lobos, raposas, cobras e lagartos; formigas; abelhões e outros que tais; monstros; lobisomens; ladrões e salteadores… e tantos outros dos que ouvimos falar nos telejornais. Ah, mas não. Isto só me aflorou à mente de raspão. Não vou pensar mais nisso. Aqui, não. Não há aqui nada disso. Sob os meus pés sorriem pequenas flores, dentro dum relvado verdinho, é macio este caminho.
Este caminho é cheio de metáforas.
A mão vai passando as contas e há alguém que vai rezando; não me parece ser eu… talvez o meu coração. Porque a cabeça, essa, levita, abstraída, sei lá, pela paisagem bonita. Ave Maria, cheia de graça…
15 comentários:
Estes teus capítulos de "Arrepiar caminho" são interessantes, pois sei por onde vais mas não sei para onde vais...
Vou-te seguindo, mas não era eu que rezava...
E estou a gostar, muito.
Fá, tem um bom domingo e uma boa semana.
Beijo.
Os Caminhos são insondáveis. O rasto que nos precede diz da nossa direcção.
Andar, com o sentido numa busca que nos orienta a Vida, não pode ser de calculismo material.
Bom! Muito bom.
Beijos
SOL
Muito interessante, sim!
Caminhos de poesia, metáforas e fé...
Beijinho
Sempre a procura de algum melhor...
Beijo Lisette.
Minha querida
O caminho faz-se caminhando e logo vemos onde vai dar, entretanto rezamos para que seja o certo.
Adorei como sempre.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Todos os caminhos estão cheios de metáforas. Obrigada pela sua bela visita.
Fá, fique com Deus!
Sim, este caminho é cheio de metáforas... mas não são assim todos os caminhos da nossa vida? :) Boa semana, Fa!
Continua caminhando, com alguma solenidade e risco, mas sem prescindir das metáforas com que nos encantas...
Beijinho, voltarei para te acompanhar neste trilho!
Ruthia d'O Berço do Mundo
Interessa caminhar com fé e serenidade...
Uma boa reflexão, Fá.
Beijinho
~~~~
Fiz-te companhia nesse caminho cheio de metáforas. Sophia de Mello, a senhora do mar e da Natureza. Gostei muito das visões descritas!
Beijinhos
Fá!
Adorei viajar nessa caminhada!
Nessas metáforas!
E se for preciso rezar, reza - se para atenuar a dor!
Um beijinho iluminado!🌼🌻🌹
Megy Maia🌈
Uma lindeza de versos escolheu. Sempre estamos a orar por caminhos floridos, mesmo quando existe uma interrogação na jornada. Bjs.
Uma verdadeira metáfora prolongada
Gostei
Poema lindíssimo que me fascinou ler. Intenso e profundo. Também escrevi sobre o caminhar
Cumprimentos poéticos
Uma verdadeira metáfora da vida... todos ansiamos por encontrar um caminho florido, sem sobressaltos de maior... mas são bem poucos os que o conseguem verdadeiramente achar...
Um poema belíssimo de Sophia que tão bem se harmonizou com o seu poético sentir, Fá!
Beijinhos
Ana
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