Estou de volta aos bancos da escola, mas agora a realidade é um pouco diferente. Todos os meus desejos e anseios se resumem a apanhar os colegas na matéria dada e a que eu não assisti. Nada seria mais frustrante para mim do que o não conseguir fazer a quarta classe. Nem os risos de zombaria dos colegas, perante o meu rosto de palhaço, me conseguem tornar numa criança excluída. É verdade que a minha cara ainda não está curada. Ainda está feia, pintada de vermelho, com algumas feridas que ainda exigem curativo. Mas nunca pensei que os colegas pudessem fazer troça de mim por causa disso. Mas fazem. Sou o alvo da chacota deles. Divertem-se assim à minha custa. Mas não faz mal. O meu mundo de fantasias vê apenas crianças sorrindo, quais marionetas manipuladas por homenzinhos, a dançar em torno de versos imaginários. Ultrapasso, assim, todo o contexto da dor causadora de algum desequilíbrio. Fecho os olhos da alma ao frio e à miséria em que me poderia ver envolta e chego, rapidamente, por etapas sucessivas, de um ponto a outro quer na Gramática ou na Escrita, quer na Geografia, na Aritmética ou na História. Bem, na História nem tanto, mas na Aritmética ninguém me supera!
Nesta altura, por muito que me perturbe o meu inglório aspecto físico e o medo da rejeição, mesmo com crises de choro e de algum isolamento, os meus pensamentos procuram outras coisas que me fazem sentir bem: os dentes brancos sem cáries, os cabelos loiros e fartos e a natural inteligência. A minha inteligência, esta sim, é para mim o maior motivo de satisfação. É ela que me permite ultrapassar todos os obstáculos e dar uma volta completa aos contratempos.
Os colegas hão-de acabar por perceber que o meu aspecto exterior não me afectou por dentro. Pois, muito embora me fiquem as cicatrizes, as neblinas, essas, estão agora nos colegas e não em mim!
Nesta altura, por muito que me perturbe o meu inglório aspecto físico e o medo da rejeição, mesmo com crises de choro e de algum isolamento, os meus pensamentos procuram outras coisas que me fazem sentir bem: os dentes brancos sem cáries, os cabelos loiros e fartos e a natural inteligência. A minha inteligência, esta sim, é para mim o maior motivo de satisfação. É ela que me permite ultrapassar todos os obstáculos e dar uma volta completa aos contratempos.
Os colegas hão-de acabar por perceber que o meu aspecto exterior não me afectou por dentro. Pois, muito embora me fiquem as cicatrizes, as neblinas, essas, estão agora nos colegas e não em mim!
20 comentários:
aqui "apanhado" nao acaso preso a escrita, leve, intensa, espontanea, clara...
sera real?mais parece pela sublime escrita sentida envolvente...
se não é...Parabens!!
A crueldade das crianças, contrabalançada pelo mundo fantasiado das crianças. Assim se vai equilibrando o mundo, assim se vai "desenhando" um belo romance...
Venha o próximo capítulo!
Estive a ler as tuas neblinas (do I ao IV) e gostei da tua maneira de contar, com uma narrativa que é agradável de ler.
Quanto a este capítulo, ele despertou-me várias recordações da escola.
As crianças são implacáveis e crueis umas para as outras. Qualquer defeito físico é objecto de chacota, desde o meigo "caixa de óculos" até outros bem piores.
Por outro lado, os heróis (nomeadamente aqueles que são mais afoitos a chamar nomes) são sempre maus alunos e são seguidos e temidos pelos restantes.
Beijinhos.
...as feridas físicas, com o tempo se curam!
Tristes são os aleijos da alma, esses sim, são tão difíceis de curar...E pelo que senti em sua narrativa, sua alma é bela e fresca como uma rosa!
Gostei muito de ter conhecido você!
Voltarei com certeza...
Beijos de luz!!!
Para quando o resto? Cria-nos assim expectativas... é a melhor coisa que um escritor pode fazer: deixar o leitor a querer mais e mais! Muitos Parabéns! Espero ansiosamente por mais...
Existem as feridas físicas, que um dia podem passar,
Mas as psicológicas, as que a maldade não deixa sarar, essas
Sim são difíceis de cicatrizar
beijos
Minha Querida Amiga,
Ao contrário do que possa parecer, a muitos, não são as crianças que são crueis e "gozam" com o que vêem, neste caso, um corpo diferente cheio de feridas que aos poucos vão sarando. Somos nós, os marcados pelas armaguras da vida que não temos a capacidade de aceitar a reação de inocentes e valorizarmo-nos no quanto podemos fazer, psicológicamente ou não, por continuarmos a ser o que era-mos e somos, não desistindo ou desmotivar de fazer tudo por sarar as feridas, que não são mais do que uma fase da nossa vida.
Não temos que ter medo, vergonha, infelicidade, desdem...não, temos sim que nos juntar aos que se riem e mostrarmos que o nosso aspecto exterior está doente mas, o nosso interior é igual ou melhor que o deles. Nada de "vinganças" ou "tristezas", apenas partilha de capacidades e igualdade.
Entendes?
Beijo Amigo
Um texto para meditar "Neblinas"...
Doce beijo
Quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão.
Obrigado pela visita.Ainda não vi tudo, mas amei o teu espaço.
Ando ocupado, mas voltarei a voar por aqui
Piquei.
Fuuuuuiiiiii....
Olhando de perto o teu olhar
Vejo raios voando na procura
Anseios depositados no vento
Uma secreta maré de ternura
Vem comigo visitar o vale dos milhafres
Boa fim de semana
Mágico beijo
Oi..
eu li o Neblina 1,2,3 e 4
vc é uma pessoa muito forte. E continue assim não se abalando com os colegas de classe, assim transparecerá no teu rosto não mais curativos mas, muita força e inteligencia que é o que vc tem de sobra!
Bom fim de semana! Beijão!
Você tem a alma linda. De que importa o resto? A força, a coragem, a luz interior, é isso tudo que faz o ser-humano transcender. Somos a semente lançada no solo da emoção e do entendimento. E frutificamos para muito além da dimensão corpórea. Você é pura alma.
Beijos carinhosos
«Os colegas hão-de acabar por perceber que o meu aspecto exterior não me afectou por dentro. Pois, muito embora me fiquem as cicatrizes, as neblinas, essas, estão agora nos colegas e não em mim!»
Há textos que nos demoram...e, também, nos obrigam a reflectir...
Foi assim nesta excelente postagem.
Paulo
Já vi que me enganei: és apenas um acorde numa melodia mais vasta. Mas a tua sensibilidade está presente nos nacos de prosa com que tive o prazer de me deliciar. Voltarei porque estou intrigado com tantos blogues colectivos: vou tentar conhecê-los a pouco e pouco. Obrigado pela visita.
Beijo.
António
As crianças são por natureza alegres, inocentes e inconsequentes...
Precisam de ser ensinadas a respeitar...
Claro que há alguns mauzinhos por feitio, mas não se deve generalizar.
Beijinho, Fá.
~~~~
Es terrible cuando solo vemos la apariencia y no lo que importa. Te mando un beso
As crianças muitas vezes são cruéis, porque nao são ensinadas a respeitar/ aceitar as diferenças, sejam elas de que natureza forem. Nada de gozo, nada de troça, nem comentários ... Há tanto para aprender e não fazer de conta que se aprendeu...
Gostei muito de te ler!
Beijinho
Relato de quem bem conhece o âmago da questão!
Beijinho
Maravilhoso texto, que nos faz viver todo o sentir da personagem... o desejo de aceitação e integração... o aprendizado de se aceitar a si mesmo, independentemente dos revezes da vida... a crueldade dos demais, sempre aguardando alguma fraqueza nossa... e que na devida escala, se vai fazendo sentir desde as idades mais tenras... mas que são um verdadeiro aprendizado para a vida... e moldam a nossa resiliência no futuro!...
Adorei cada palavra! Um beijinho
Ana
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