A cidade cheira a mar. Sim... e ouve-se o mar de encontro à areia...
Acho que me vou cá sentir bem.
- Tens de tirar a roupa. - Desperta-me o homem de bata branca.
Olho-o surpreendida a tentar compreender.
- Tenho de te observar. Pesar, medir...
Hesito e olho à minha volta. Não é nada agradável despir-me aqui. Não é que esteja frio… não é isso. Esta sala, no primeiro andar, até que está quente, com o calor do sol que entra pela janela. É que sinto vergonha…
“Caramba! Para vir para o colégio é preciso isto?” Vou pensando enquanto, a custo, começo a tirar a roupa. Fico só de combinação… e cuecas, e tremo de acanhamento. Ao menos se a mãe estivesse aqui… mas não. Ela nunca quis saber de nada. É sempre o pai para tudo…
Inspiro profundamente e ganho coragem. Afinal de que me vale tremer? Ainda só se está a insinuar esta nova vida a que vou ter de me adaptar. O pai decidiu assim… e eu não me importo, acho mesmo que irá ser bom.
- Pronto! Agora podes vestir-te. – Diz o médico, depois de me ter pesado e medido, e ter colocado, repetidas vezes, um aparelhinho em contacto com as minhas costas e peito, ao mesmo tempo que me mandava respirar com força outras tantas vezes.
- Tens que comer mais um bocadinho para não seres tão magrinha. – Acrescenta ele, a sorrir para mim.
Encolho os ombros ainda meio envergonhada e não digo nada. Não sou de falar muito. Mas o pai é todo cheio de amabilidades para com o senhor doutor. Ele fala por ele e por mim.
Quando chego à rua inalo, finalmente, aquele apetecido aroma a maresia, que me faz sentir leve e esquecer o desconforto que passei lá dentro.
Liberto-me, por agora, deste mundo entre grades, desconhecido para mim, mas que começo a ficar inquieta por provar.
(Publicado em livro: Memória Alada, 2011)Acho que me vou cá sentir bem.
- Tens de tirar a roupa. - Desperta-me o homem de bata branca.
Olho-o surpreendida a tentar compreender.
- Tenho de te observar. Pesar, medir...
Hesito e olho à minha volta. Não é nada agradável despir-me aqui. Não é que esteja frio… não é isso. Esta sala, no primeiro andar, até que está quente, com o calor do sol que entra pela janela. É que sinto vergonha…
“Caramba! Para vir para o colégio é preciso isto?” Vou pensando enquanto, a custo, começo a tirar a roupa. Fico só de combinação… e cuecas, e tremo de acanhamento. Ao menos se a mãe estivesse aqui… mas não. Ela nunca quis saber de nada. É sempre o pai para tudo…
Inspiro profundamente e ganho coragem. Afinal de que me vale tremer? Ainda só se está a insinuar esta nova vida a que vou ter de me adaptar. O pai decidiu assim… e eu não me importo, acho mesmo que irá ser bom.
- Pronto! Agora podes vestir-te. – Diz o médico, depois de me ter pesado e medido, e ter colocado, repetidas vezes, um aparelhinho em contacto com as minhas costas e peito, ao mesmo tempo que me mandava respirar com força outras tantas vezes.
- Tens que comer mais um bocadinho para não seres tão magrinha. – Acrescenta ele, a sorrir para mim.
Encolho os ombros ainda meio envergonhada e não digo nada. Não sou de falar muito. Mas o pai é todo cheio de amabilidades para com o senhor doutor. Ele fala por ele e por mim.
Quando chego à rua inalo, finalmente, aquele apetecido aroma a maresia, que me faz sentir leve e esquecer o desconforto que passei lá dentro.
Liberto-me, por agora, deste mundo entre grades, desconhecido para mim, mas que começo a ficar inquieta por provar.
15 comentários:
Este teu revisitar do passado... feito de ausências fortes. Espero que não te tenhas transformado no oposto de mãe galinha. (se me permites esta pequena provocação ficional).
Bom fim-de-semana e mantém-te longe da chuva, que por aqui não nos dá tréguas!
Enfrentamos sempre tantas coisas pela primeira vez...
Gostei do texto, é um retrato fiel do que acontece na realidade.
Beijinhos.
A primeira vez seja do que for é sempre difícil depois para as meninas há coisas que ficam mais fáceis se acompanhadas pelas mães, mas são experiencias, e passam
beijos
Mais um regresso à vida passada (real ou ficcionada, que importa), que promete uma bela estória. Fico à espera:))
Os pequenos episódios que marcam. Não sei se essa criança és tu ou é ficção, mas acho que isso não é importante. A estória cresce... Espero vê-la grande, imensa.
Beijinhos
Em tom de acorde m.e.n.o.r. desliza a melodia onde a palavra é agora de afecto e gratidão.
Aqui, na primeira pessoa, é narrada a história viva de um momento, onde o aroma a maresia é libertação, de dentro para fora.
Aqui, neste espaço, pernoito em silêncio onde a alma se acrescenta.
Obrigado !
e que as palavras sejam sempre a extensão da pele, na memória sempre presente...
Sou coração que segue em silêncio
Nos fios do sublime pensamento
Pela ressurreição de um sorriso
Renasço nas asas do tempo
Esta Terra é degredo dos sonhos
É espelho que distorce o sentimento
É castigo no julgamento do fracasso
É fogo que se cala a todo o momento
Mágico fim de semana
Doce beijo
Um texto muito agradável e muito correto.
Gostei de ler, Fá.
Beijinhos
~~~~
Gostei, outros tempos em que havia pudor...uma menina.
Eu desde cedo, quis ir ao médico sozinha, no meu caso era a minha mãe, falava por mim e por ela.
Aprendi a depender pouco dos outros.
👄👄👄
Gosto muito das tuas fotos, amiga. Mas, confesso, sentia falta de ler o que escreves; és muito boa, em letras e imagens! :) Meu abraço, boa semana.
Boa noite de muita paz,querida amiga Fá!
Como escreve bem, parabéns!
Bom ter versáteis dons... Ora um, ora outro.
Muito bem, quero ler mais contos seus.
Agradável do início ao fim.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Adorei ler! Médicos e dentistas... sempre experiências que nos deixam com ansiedade... até em adultos, quanto mais em crianças!
Adorei aquele sopro de alívio e leveza, que o texto nos proporcionou no final...
Beijinhos, Fá! Votos de um feliz domingo!
Ana
Uma experiência médica este texto 🙂
Very interesting!
Semore muito bom seus contos !
Iniciei com a casa dos ratos e me surpreendi com tal habilidade sua .
Obrigada _ escreva sempre, Fá .
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