12/12/2008

Regresso ao mundo II

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Uma sonata de sons alucinantes parecia ecoar aos ouvidos de José Miguel, como convite a loucuras inconfessáveis. Aquela mão, retida na sua, irradiava centelhas de calor que o trespassavam até à medula.
O mundo tinha parado e José Miguel, de olhos fechados, saboreava com sofreguidão aquela embriaguez dos sentidos que se apoderara dele, enquanto o seu peito arfava de comoção.
Não conseguindo aguentar, foi deslizando a sua mão pelo braço nu da sua amada, num bailado de arrebatadora paixão.
Sentia-se um pecador, mas o desejo foi mais forte. Pousou os seus lábios naqueles que o chamavam com um misto de veludo e seda, primeiro com toda a suavidade, depois, sentindo-os entreabrirem-se, fundiram-se neles numa entrega inevitável e plena de êxtase.
O beijo quente e apaixonado fez-lhe reviver alvoroços perdidos no fundo de um baú. Mas aquilo parecia-lhe uma violação. “Perdão, meu amor…”, foram as palavras que lhe afloraram à mente. E afastou-se. Afastou-se sem se poder saciar naquela boca, que tantas vezes tinha povoado os delírios das suas noites. Afastou-se sentindo um arrepio profundo a inundá-lo, até lhe deixar as mãos trémulas e a cabeça à roda. E, de repente nauseado, antes de ter tempo de procurar onde se sentar, notou que o chão lhe fugia…
As emoções tinham sido muitas e demasiado fortes nos últimos dias, e aquela vertigem, que lhe tirou momentaneamente os sentidos e o atirou ao chão, era o resultado disso.
“Luísa… oh, Luísa… tanto te esperei!...”
Continua

11 comentários:

antonio ganhão disse...

Somos pecadores da felicidade que não merecemos?

Justine disse...

Pobre Miguel... má consciência fruto da herança cultural judaico-cristã?
Ou outra razão subtil que não dá para adivinhar??
Espero ansiosa a continuação:))
Entretanto Bom Ano e até para o ano!

Nilson Barcelli disse...

Quando era adolescente também pensava que era pecado...
Gostei do teu conto (não sei se acabou com esta parte...). A tua narrativa é muito agradável.
Feliz Natal, beijinhos.

**Viver a Alma** disse...

Querida Fa Menor...
Agora por aqui, por esta via:
Não a imaginava tão "intensa" a escrever contos....ignorando se e ficção ou não - para o caso tanto faz.
Penso contudo que transmite o que de facto se sentiria em estado de embriaguêz, chamada de: paixão
Como já vivi isso, percebo hoje o quanto estava enganada...
Nada do que o corpo fala, é importante!

Beijinhos estrelados de um Feliz Natal
Mariz

Gilbamar disse...

É perceptível como à medida que o tempo vai passando fica visível o quanto o pensamento humano se transforma e tanta coisa que antes era considerada pecado, agora nem tanto...

Deixo meu fraterno abraço amigo.

Celso José Costa disse...

Palavras vivas
que nos tocam!

Vejo nelas
uma grande manifestação de Amor!

Majo Dutra disse...

Gostei da descrição, curiosa, aguardo a continuação.
Abracinho.
~~~~

Ana Freire disse...

Pura emoção neste delicioso texto... e nesta história, que para minha alegria... já me apercebi que tem continuação!...
De leitura imparável... assim que se inicia... Parabéns, Fá!
Beijinhos
Ana

By Me disse...

Há coisa mais linda que estar apaixonado e ser correspondido? Também é verdade que os "rabos de saia" irritam-me, abomino a leviandade, não suporto. Normalmente é o sexo feminino que suporta as traições!

AC disse...

Quando cheguei ao fim da leitura, de tão envolvido que estava, senti-me como uma criança a quem tiraram um brinquedo...
Aguardemos, pois, pelo desenrolar.

Abraço

O Árabe disse...

Muito bom, Fa; li ambos. Adoro as tuas fotos, mas já sentia falta do que escreves! :) Meu abraço, amiga; boa semana.

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