11/09/2025

Ao Domingo

(reposição)

 
- Só agora? Ficaste a despir o padre?!
Já me habituei a este tipo de ralhete, de voz forte, do pai, ao domingo quase à hora de almoço. Ele quer que eu ajude a mãe na cozinha, mas é ela que não me quer lá… manda-me sempre de lá para fora, diz que eu só atrapalho, que não sei fazer nada… quando a culpa não é minha, é ela que não me ensina. Por isso, não tenho que me apressar. Na casa de Deus estou melhor do que na minha.
Não tarda, vou fazer doze anos e já há um certo tempo que pensava em ajudar a dar catequese, mas tinha vergonha de o dizer ao senhor prior. A Fernanda, que fez a Profissão de Fé comigo, ajuda no grupo do primeiro ano e eu comecei a achar que também podia ir aprendendo. Há dias disse-o à tia e ela, num domingo destes, levou-me à sacristia, no fim da missa, e falou com o senhor prior.
Não sou de falar muito. Sou um bocado tímida. Por isso, a tia falou por mim.
Comecei logo no domingo seguinte e estou a gostar muito. Para já, fiquei a auxiliar no grupo do segundo ano; tenho um guia para seguir as lições e cabe-me preparar uma por mês. Posso dizer que é muito interessante como e o que se aprende assim, a ensinar, muito mais do que quando frequentava a catequese para aprender.
É esta a razão de me demorar a chegar a casa e, também, porque gosto de me encontrar com as minhas amigas pelo caminho. Mas o domingo é um dia diferente dos outros dias da semana. Será assim tão difícil de perceber?

04/09/2025

A Casa dos Ratos — intermezzo (8)

 (anterior)

Toda a quadrilha tem um chefe. E eles eram quatro – adiantou-se o vermelhinho: “Eu sou o chefe! Vamos lá, que se faz tarde!” 

E aí vão o Vermelhinho, o Azulinho, o Verdinho e o Amarelinho numa desfilada apressada em fila pelo carreiro, no desfiladeiro do túnel a desembocar numa fresta, alargada pelo Tonecas de tanto por lá remexer. E uma luz lá ao fundo brilhava para eles, que já a estavam a ver. Mas são os olhos do Gato que brilham tanto no escuro na ânsia de os comer. Um sobressalto. Um salto. Um “Alto!... Para trás!... que está ali o rapaz!”
Tiveram de recuar e esperar por melhor oportunidade. 

O Tonecas percebera que tinham tentado fugir. Ficou mais alerta, mas à futrica. Desejava-os há tanto tempo que temia que lhe escapassem sem lhes conseguir tocar. Disfarçou, fechou um olho e abriu outro, espreitou pelo buraco, esperou, esperou, esperou, eles haviam de vir. Fingiu um sono profundo. E adormeceu... e acordou e… 

...é agOora! Deu um salto estendendo as mãos e… 

Quase, quase!... por um triz. Ao lado do seu nariz.

Caramba! (meneou a cabeça), como foi possível?! Estava apardalado... Tinham passado rapidamente debaixo dos seus bigodes, caladinhos como só ratos, que só viu o rabo do último. 

Ainda correu, esbracejou, procurou, fungou, miou, qual quê? Agora?! Muito tarde e a má hora! Já deviam ter-se alojado nalgum canto bem escondido. Ah, como lhe tinham apetecido, como lhe apeteciam ainda, que nóia! Cabisbaixo e atordoado retirou-se, já nada havia a fazer, melhor seria agora esquecer. 

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