16/07/2009

[1] Gotas

O José tem 76 anos. Fala-se de miséria habitacional, concretamente ao nível do telhado, que se encontra degradado, deixando que as gotas de chuva lhe entrem em casa e caiam em cima da cama. Imagina-se o que lá vai dentro. Além disso, o seu aspecto denuncia falta de cuidados de higiene pessoal, em que as pulgas encontraram poiso; parece, ainda, não usufruir de uma alimentação digna, sendo visto, na rua, a comer apenas bocados de pão com alguma outra coisa. O José é portador de algum atraso mental e vive sozinho, sem suporte familiar, depois de terem falecido, primeiro o cunhado, única pessoa com maior tino naquela família, e depois a irmã, que lhe cuidava da alimentação e da roupa.

Ninguém pediu nada. Há olhos para ver. Ouvidos para ouvir. E uma pele para se arrepiar.
Há uma intervenção para fazer.

Continua

13 comentários:

Conversa Inútil de Roderick disse...

Muitos Josés há pelo Portugal do Sec. XXI!! Infelizmente...

Cátia disse...

Infelizmente muita gente não quer ver... não quer fazer nada para mudar... infelizmente é muito comum.

Continuo a adorar ler-te.
Beijinho mt grande,
CA

antonio ganhão disse...

Não com os meus impostos, responde o povo que vira a cara quando o José passa...

Justine disse...

Os Josés precisam de ajuda, nem que seja para morrer com dignidade já que viver é o que se vê, mas quem se importa??
Até quando a existência de Josés?

Å®t Øf £övë disse...

E com quantos "Josés" não nos cruzamos nós diariamente...
Bom fds.
Bjs.

antonior disse...

"Sim, e quantas vezes pode um homem virar a cabeça
Fazendo de conta de que não vê?



A resposta, meu amigo, voa no vento
A resposta voa no vento


Sim, e quantas vezes tem um homem de olhar para cima
Antes de poder ver o céu?
Sim e quantos ouvidos tem um homem de ter
Antes de poder ouvir os outros chorar?

A resposta, meu amigo, voa no vento
A resposta voa no vento"

Assim cantava (no seu inglês nativo) um jovem rebelde há meio século atrás. O senhor Dylan, mais tarde apaziguado pelas "virtudes" do "sistema" americano. Nesse tempo cantava junto com a Joan Baez, o Pete Seeger e muitos outros. Depois tudo se desmembrou, perdeu força. Tudo se pulveriza.

Hoje, aqui, como noutros lados quem pode fazer alguma coisa, olha para o lado para não ver....

Quem olha em frente e sente, não tem meios para fazer nada....

E tudo fica igual, dia após dia...

Tantos Josés por ai, e Manéis, e Joanas....fome, doença, dor...e quem, para fazer o quê? Um paliativo agora para cair no mesmo dentro de dois dias. O problema é de estrutura social, a estrutura social, depende da cultura política e essa gasta o dinheiro na corrida ao poder ou na sua manutenção.

E dito isto, explico que não me deve ser atribuida filiação ideológica porque não tenho nenhuma...

Abraço

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde, querida Fã!
Muitos são os esquecidos do mundo e de si.
Gostei do momento que nos proporciona de sermos gratos pelo muito que temos.
Felicidades e bênçãos para você!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
😘😘😘

Ana Freire disse...

Um retrato impressionante... de tantos Josés... infelizmente!...
Mais um pedacinho de texto, que nos prende a atenção, fortemente...
Sempre um prazer imenso, descobrir cada um dos seus belíssimos textos, Fá!
Beijinho
Ana

By Me disse...

A realidade crua e nua. Esse José, tal como muitos outros, é doente, é pobre, não tem amigos, sem dinheiro . Fica por sua conta porque os serviços públicos só atuam se for lá uma equipa de jornalistas de investigação e deixar tudo a nu. O caso tem de ser tornado público para ficar válido. É o mundo, desculpa a expressão, nojento e hipócrita que existe. O problema é quando, quem de fora, observa e acata como uma coisa "normal" . A indiferença irrita-me. Se fosse na casa dessa gente, aposto que não ficariam indiferentes!

Beijinho e bom fim de semana.

Majo Dutra disse...

Muito bem realçada a falta de cidadania das pessoas, talvez por falta de formação...
Tudo pelo melhor, Fá.
Beijinho
~~~~

alfacinha disse...

Que vida triste e pior é que tantas pessoas têm de viver assim
abraços

Porventura escrevo disse...

Um pedaco triste da nossa rotina
Obrigado pela partilha
Apesar de tristw

J.P. Alexander disse...

Reflexiva entrada te mando un beso

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