Hoje o pai levou-me ao cabeleireiro. E comprou-me uma calça comprida e uma camisola com comboios na frente.
A mãe barafustou. Isso eram ares que se dessem à garota? "Olhem para esse cabelo! Não era muito mais lindo como estava? Era preciso ir gastar dinheiro à cabeleireira para lhe fazerem uma coisa destas? Eu não lho tenho arredondado sempre? E as calças!? Onde é que já se viu uma cachopa de calças? Tu não tens juízo nenhum... é por essas e por outras que..."
Fechei-me no meu quarto à espera que se calassem.
O pai é mais novo do que a mãe. Não em idade, mas em ideias, na maneira de ser e de viver. Se calhar por conhecer e falar com tantas pessoas. Quando sai gosta de ir bem vestido e engravatado e de corrente do relógio à cintura. E tem orgulho em me apresentar aos seus conhecidos.
A mãe é antiquada. Não tem gostos. Mais parece minha avó. Só me quer vestir com os vestidos de chita que ela própria costura.
Mas quando eu era mais pequenina era uma princesa. Ouço contar que, quando ainda mal falava, o tio do Brasil, quando cá veio, me trouxe um casaco de crochê branquinho, que fez a inveja da minha vizinha:
- Eh cachopa, pareces um Bispo!!!
Quando alguém me perguntava o que ela me tinha chamado, eu respondia "O Bico! O Bico!"
Dizem-me que eu era uma menina "nas mãos das bruxas"...
Eu não sei muito bem o que isto quer dizer, mas penso que é por eu ser a única criança pequena da família toda. As bruxas devem ser as minhas três primas, que são raparigas crescidas que já vão para a "Borda d'Água", e que gostavam muito de andar sempre comigo ao colo.
Já não estou a ouvir vozes. É altura de ir ao quarto dos pais ver se estou bonita!
Neste quarto há dois espelhos grandes, um no guarda vestidos, de um lado da cama e outro no peciché, do outro lado, um em frente do outro. É aqui que gosto de me mirar!
"Espelho meu, espelho meu, haverá alguém com um sorriso tão lindo como o meu?!"
É o pai que me tem ensinado a ser vaidosa. Para desespero da mãe.
A mãe barafustou. Isso eram ares que se dessem à garota? "Olhem para esse cabelo! Não era muito mais lindo como estava? Era preciso ir gastar dinheiro à cabeleireira para lhe fazerem uma coisa destas? Eu não lho tenho arredondado sempre? E as calças!? Onde é que já se viu uma cachopa de calças? Tu não tens juízo nenhum... é por essas e por outras que..."
Fechei-me no meu quarto à espera que se calassem.
O pai é mais novo do que a mãe. Não em idade, mas em ideias, na maneira de ser e de viver. Se calhar por conhecer e falar com tantas pessoas. Quando sai gosta de ir bem vestido e engravatado e de corrente do relógio à cintura. E tem orgulho em me apresentar aos seus conhecidos.
A mãe é antiquada. Não tem gostos. Mais parece minha avó. Só me quer vestir com os vestidos de chita que ela própria costura.
Mas quando eu era mais pequenina era uma princesa. Ouço contar que, quando ainda mal falava, o tio do Brasil, quando cá veio, me trouxe um casaco de crochê branquinho, que fez a inveja da minha vizinha:
- Eh cachopa, pareces um Bispo!!!
Quando alguém me perguntava o que ela me tinha chamado, eu respondia "O Bico! O Bico!"
Dizem-me que eu era uma menina "nas mãos das bruxas"...
Eu não sei muito bem o que isto quer dizer, mas penso que é por eu ser a única criança pequena da família toda. As bruxas devem ser as minhas três primas, que são raparigas crescidas que já vão para a "Borda d'Água", e que gostavam muito de andar sempre comigo ao colo.
Já não estou a ouvir vozes. É altura de ir ao quarto dos pais ver se estou bonita!
Neste quarto há dois espelhos grandes, um no guarda vestidos, de um lado da cama e outro no peciché, do outro lado, um em frente do outro. É aqui que gosto de me mirar!
"Espelho meu, espelho meu, haverá alguém com um sorriso tão lindo como o meu?!"
É o pai que me tem ensinado a ser vaidosa. Para desespero da mãe.
(Publicado em: Memória Alada, 2011)
14 comentários:
Como é bom lembrar, reviver, entender o que em meninas não entendíamos, espero que mantenhas esse sorriso desde menina
Bj
Conseguiste dar ao texto um ar de quem foi escrito por uma criança.
Gostei dessa visão, de baixo para cima...
Beijinhos.
Sempre....o facetado espelho onde nos revemos magnificamente favorecidos...
... olá menina vaidosa ...
Amiga não consigo manter a pestana aberta o suficiente para ler este teu post! Desulpa a Flor, mas tô tão cansadinha!... Mas não quis ir dormir sem antes passar por um cantinho teu e "sentir" o bater do teu coração... desejar-Te também, uma optima semana AMIGA! Obrigado pelo carinho :D
Que Jesus ilumine sempre os teus caminhos.
Flor
Apenas para dizer «Olá».
Já agora...gosto muito da serenidade desta música..
Beijo
Paulo
É tao bom sentirmo-nos a "menina do pai"... Aconteceu-me. Ate que um dia o sonho desmoronou e ficou apenas a saudade do passado e a magoa por o presente nao ser igual...
Gosto dos teus contos querida..
Buen relato me gusto el final . Te mando un beso
Um texto infantil, mas nao infantilizado
🙂
Gosyei
Prefiro o pai e a miúda também!
Uma crónica jeitosa! Gostei muito!
Beijinhos
Adorei o final. muito bom.
Um texto delicioso, que nos fez viver a situação com o sentir da criança!...
Adorei cada palavra!
Beijinhos
Ana
Abençoado seja esse seu pai.
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Um dia feliz … cumprimentos.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Adoro as tuas fotos, Fa! Mas já andava com saudades de ler que escreves, amiga! Adorei também o texto. Meu abraço, boa semana!
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