Um dia meio pardo, com o sol a espreitar aqui e ali.
A bicicleta do pai chamou-me, luzindo numa nesga de sol que lhe pousou.
Não me fiz rogada, pois para brincar estou sempre pronta.
Aprendi, não há muito, a andar de perna traçada sob o quadro
daquelas rodas enormes, e depressa fiquei viciada em pedalar, agora sentada
no selim.
Afoita, já sem os pés no chão, vá de enrolar com os pedais,
fazendo girar as rodas, para que a bicicleta tomasse balanço e depois, sem
esforço, só a guiasse ladeira abaixo levando-me à boleia.
E era como se tivesse asas… poesia para voar.
Sem os pés assentes no chão, no que é o real, tanto pode haver poesia, como só e apenas o pó, da po-esia.
A bicicleta voou pela descida acentuada, como se a estrada fosse céu, mas eu não tinha pára-quedas.
Sem ser capaz de acompanhar o voo, com
medo de não fazer a curva lá em baixo, atirei-me para a barreira do terreno do
lado direito e fiquei ali caída para trás, enquanto a bicicleta foi rolando
certinha e direitinha, até se espetar contra o portão da casa azul ao fundo.
Quando o chão deixa de ser esse céu de poesia, para passar a
ser apenas o pó que nos envolve, também se cai por dentro; ainda que às vezes
seja apenas uma paragem mais ou menos pequena, antes de regressar ao voo.
Felizmente, só sofri uns arranhões e a bicicleta não se
estragou.
Quantas vezes as quedas que não se vêem deixam marcas difíceis de apagar . Mas se assim não fosse , seria tão mais difícil aprender …
ResponderEliminarBeijinho, Fa
Olá, Fá Menor.
ResponderEliminarMuito bom esse teu relato poético-acidental...rs
Pedalei demais na adolescência, era meu brinquedo preferido. E claro que tenho algumas quedas memoráveis para relembrar.