A felicidade é da cor de um céu sem nuvens e tem retido o odor das flores silvestres que se inspira, em tardes soalheiras, ao longo dos pinhais por desbravar; o canto das cigarras e dos grilos imprime-lhe o tom da melodia que sai da boca da criança, que apenas tacteia ao começar a desfolhar o livro da vida.
Oh, como sou feliz ao perscrutar os anelos do coração, os anseios de uma alma que ainda não ousa abrir os olhos!
Voo em meu redor, como uma borboleta mal saída da crisálida. Tudo à minha volta foi feito para mim. É meu.
As primeiras lembranças são marcantes. Permitem a um ser abrir-se ou fechar-se, dar-se ou retrair-se.
A idade da inocência é como o carneirinho da tia a quem ensinei a dar marradinhas.
O carneirinho estava sempre fechado naquele curral ali em baixo, na parte de trás do terraço.
Era de pêlo branquinho, tão pequeno, tão lindo!...
Quando a tia ia levar o almoço ao tio mandava-me para a minha mãe. Mas eu batia o pé e não queria ir. Sentia-me melhor em casa da tia.
- Não podes ficar aqui... tenho que fechar as portas. Olha, só se ficares no curral do carneirito. - Dizia-me a tia, para que eu fosse para minha casa.
- Eu fico com o carneirito. - Respondia decidida.
E a tia fechava-me lá no curral ao pé dele, avisando depois a minha mãe.
O carneirinho aproximava-se de mim e eu, com algum receio, colocava as mãos à frente para me proteger e mandá-lo parar.
- Ai não, não, não, não...
Mas ele batia levemente com a cabeça nas minhas mãos, aprendendo assim a dar as primeiras marradinhas, claro que pelo seu instinto, mas também pela força do meu gesto repetitivo.
E era assim que a minha mãe nos surpreendia.
A beleza destas brincadeiras faz-me acreditar que a inocência anda sempre de mãos dadas com a felicidade.
(Publicado em livro: Memória Alada, 2011, pág. 14)
Oh, como sou feliz ao perscrutar os anelos do coração, os anseios de uma alma que ainda não ousa abrir os olhos!
Voo em meu redor, como uma borboleta mal saída da crisálida. Tudo à minha volta foi feito para mim. É meu.
As primeiras lembranças são marcantes. Permitem a um ser abrir-se ou fechar-se, dar-se ou retrair-se.
A idade da inocência é como o carneirinho da tia a quem ensinei a dar marradinhas.
O carneirinho estava sempre fechado naquele curral ali em baixo, na parte de trás do terraço.
Era de pêlo branquinho, tão pequeno, tão lindo!...
Quando a tia ia levar o almoço ao tio mandava-me para a minha mãe. Mas eu batia o pé e não queria ir. Sentia-me melhor em casa da tia.
- Não podes ficar aqui... tenho que fechar as portas. Olha, só se ficares no curral do carneirito. - Dizia-me a tia, para que eu fosse para minha casa.
- Eu fico com o carneirito. - Respondia decidida.
E a tia fechava-me lá no curral ao pé dele, avisando depois a minha mãe.
O carneirinho aproximava-se de mim e eu, com algum receio, colocava as mãos à frente para me proteger e mandá-lo parar.
- Ai não, não, não, não...
Mas ele batia levemente com a cabeça nas minhas mãos, aprendendo assim a dar as primeiras marradinhas, claro que pelo seu instinto, mas também pela força do meu gesto repetitivo.
E era assim que a minha mãe nos surpreendia.
A beleza destas brincadeiras faz-me acreditar que a inocência anda sempre de mãos dadas com a felicidade.
15 comentários:
Lino querida, amei teus contos, sabem-me à saudades.
(\0/)
contos simples mas joviais com marcas e (alguns com) profundidade.
fiquei a pensar sobre esta parte:
"A beleza destas brincadeiras faz-me acreditar que a inocência anda sempre de mãos dadas com a felicidade."
bj
Subscrevo, algumas brincadeiras além de inocentes, fazem parte da alegria e da felicidade infantil! São as melhores memórias!
Beijinho
Que conto sensível e lindo . São as coisas pequenas que dão o maior alegria na vida .
abraço
Adorei este momento!
fez me viajar no tempo.
Fez me sentir o cheiro do mato dentro do curral...um cheiro quente e meio doce :) do rebanho dos meus avós.
Também eu Acredito que a inocência anda sempre lado a lado com a felicidade.
Abraço**
Que lindo, esta inocência, que se respira no texto... e nos faz regressar à nossa essência primordial, nos tempos de criança...
Maravilhoso de ler, Fá! Adorei!
Beijinhos
Ana
Pela "Memória Alada" fiquei a saber que és a Fatinha de Oliveira Ramos... Que tinhas muito talento para a escrita, já o sabia há imenso tempo. E este texto é exemplo disso. Brilhante.
Um beijo, minha amiga Fatinha.
Bom é ter olhos para ver todos os tons que a natureza e a vida podem, de diversas formas, oferecer-nos. Basta estar atento. Um abraço!
Infelizmente, nem sempre as crianças na idade da inocência são felizes,
(leia a minha postagem de amanhá) porém, é de facto, o tempo da felicidade.
Gostei muito de a ler, Fá.
Tudo bom.
Beijinho
~~~
menina Fá, bom dia,
Enquanto criança no mais das vezes a vida é um colorido encantador, nada mais lindo que a puerilidade. Gostei do conto!
Bom dia com paz.
Bjss
Olá querida Fá!
Que lindo texto!
A inocência não deveria ser esquecida. Deveria ser guardada pra sempre dentro da gente.
Beijos, Deus abençoe você sempre 🌷🌹
Um excelente texto.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Esta en paz y sin culpas te hace feliz te mando un beso
Un texto muy bueno ♥
A saudade é dolorosa mas forte de se rettratar
Gostei
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