09/02/2009

Esperando

Agora, ao pensar como teria sido se tivesse ficado naquele colégio, ainda experimento certas sensações que me ficaram impregnadas.
Nessa altura, eu não podia imaginar que tudo se iria passar tão diferente do que então pensava. As aulas tiveram início e eu não fui.
Bem sei que as coisas não têm que ter um começo como se idealiza, e que a vida é complicada. Mas, por vezes, é muito complicada mesmo. Não que eu sinta qualquer complicação, e o pai até disse que seria tudo muito mais simples assim, mas eu vejo os dias a passar e nada muda… excepto o termos mudado de casa. Agora, da janela do meu quarto já não vejo a casa da tia. Aliás, da janela do meu quarto já não vejo nada, a não ser as escadas que dão para o terraço. Posso abri-la e trepar por ela para as escadas, sem precisar de ir dar a volta. Sim, isso é mais simples…
Dantes, na aldeia pequenina e sossegada, ia de casa para a casa da tia, e da casa da tia para a casa da avó, e novamente para casa, sempre e quando tivesse vontade. Agora já lá não vou todas as vezes em que me apetece. Isso é que não é assim tão simples. É mais longe e a possibilidade de escapar é nula. É verdade que aqui tenho mais colegas. Lá, só tinha a Cila e a Lila, as duas irmãs que moravam na casa ao lado. Aqui, nesta rua enorme, tenho muitos mais, mas só brincamos aos domingos.
Os dias são sempre iguais. O rádio fica ligado todo o dia. Ouvir música, ler… e estive doente. Tive muita febre e quase deixei de comer… mas comi uma maçã amarela deliciosa que a tia me trouxe, ainda sinto o seu travo na boca sempre que recordo. Ah, e consegui aprender a andar de bicicleta. De perna traçada, na bicicleta do pai, depois de algumas quedas e dos joelhos e cotovelos esmurrados. 
Enquanto isto, continuo à espera que abra a escola na vila, para onde o pai disse que tinha pedido a minha transferência. Mas já passou mais de um mês e ainda nada aconteceu.

16 comentários:

antonio ganhão disse...

Será a passagem para a adolescência um mudar da aldeia para a cidade?

Justine disse...

A nostalgia da aldeia, o encantamento da infância, que sempre perdurará!
E o teu saber contar...

Renata Cavanha disse...

Nossa gostei muito do seu texto.... vi seu recadinho que deixou na minha postagem e vim te visitar...

Sabe, as vezes é dificil as mudanças, parece q nada muda ao nosso redor, mas vamos percebendo com o tempo as mudanças...

Quando era pequena mudei de SP, para UBerlandia, era nova, 7 anos, lá tinha td minha familia, e mudei para uma cidade q nao tinha nenhum parente, mas com isso muita coisa mudou, escola nova, amizades novas, se acostumar com as pessoas no novo bairro...

Isso tornou-se a repetir a dois anos, mudei para Araraquara! Escolha? Sim. Escolha minha, assumir meu chamado , minha vocação...deixar pai, mãe, irmãs, sobrinho , cunhado, para assumir um chamado de Deus!!

2 anos se passaram, muitas diferenças em minha vida, descobertas??tmb... Muitos amigos sumiram, novos amigos nasceram!!! Recomeçar, sim!!! Novamente, mas a certeza de que Deus está no controle de tudo!!! Entende?
Simples assim, as vezes não notamos, mas quando olharmos para trás vamos ver...O Senhor estava comigo!!!

Deus te abençoe
adorei a postagem!!!
Renatinha

vida de vidro disse...

Revi-me um pouco nessa menina, eu que também mudei da aldeia para a cidade. Gostei muito. **

mundo azul disse...

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Recordações...

Um texto tecido com alguma frustração...Velada, mas, latente!


Beijos de luz e o meu carinho...

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C Valente disse...

SAUDAÇÕES AMIGAS

Nilson Barcelli disse...

Andar de bicicleta de perna traçada...
Ao tempo que eu não tenho essa visão...
Belo texto querida amiga, beijo.

Unknown disse...

Estas mudanças na vidas das crianças por vezes deixam marcas, e a adaptação pode até ser dificil.

Gostei o texto!

Beijinhos,
Ana Martins

Jorge Freitas Soares disse...

Um belo texto.... que me deixou a pensar, nas minhas passagens pela vida....

Gostei.

Jorge

- Moisés Correia - disse...

O sol acende a tímida luz do dia
E embarco na viagem que nunca faço…
Abraço manhãs no ceio da chuva fria
Desbravo os ventos em trilhos do acaso

Grato estou pelo comentário
No meu “pensamentos”…
Que adormecem
Ao relento do alento
E enriquecem
Meus esplêndidos momentos

Um resto de um bom fim-de-semana

O eterno abraço…

-MANZAS-

gaivota disse...

tantas passagens que temos no decurso da nossa vida... vamos de meios pequenos para as ditas cidades, procuramos outros modos de vida e melhores espaços para a família que se vai constituindo...
depois até pode haver o regresso às origens!
linda história...
beijinhos

*Lisa_B* disse...

Amiga
lindo texto como sempre que prende e faz ler tudo não se consegue parar...pena é que depois acaba depressa.
beijinhos meus

J.P. Alexander disse...

Me gusto mucho. Genial relato. Te mando un beso.

Beites disse...

Coragem e boas nostalgias Fá *,~`)
Bom e belo dia de Primavera em toda a harmonia. Beijinhos.

Ana Tapadas disse...

Fá, um texto magnífico pleno de nostalgia e da presença num tempo antigo. Tudo era próximo nessas pequenas terras...e o colégio a romper a proximidade.

Um beijo

" R y k @ r d o " disse...

Mudar os hábitos da vida nunca é fácil. Bonito texto que muito gostei de ler. Cumprimentos poéticos

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