07/01/2025

Presépio na Montra e a revisita

Volto ao presépio do tio Zé. O fascínio das suas figuras impeliu-me a revisitá-lo e a observá-lo mais demoradamente.

São figuras pequeninas, de barro pintadinho de cores bonitas, que na sua simplicidade tornam este presépio num lugar mágico, cativante, onde se misturam a criatividade com o belo; e como que a pureza sobressai e vem ao nosso encontro e nos quer falar.

Detive novamente o olhar na figurinha mais intrigante para mim: o Ano Velho com o Ano Novo às costas. Como cheguei a pensar que seria o Pai Natal carregando o Menino Jesus, tenho de o apreciar melhor. Que nos quererá mesmo dizer esta figura no presépio?!...

Que o tempo não termina com o fim do ano, mas continua em tempo Novo, ou renovado?...
Que o tempo de Natal tem o fim do ano e o início de outro pelo meio?...
Que um ano passa o testemunho de Natal ao outro ano?
Que Jesus Menino não é só no Natal, mas se transporta de um ano ao outro?

Sim, para esta figura estar no presépio, terá algo a ver com Jesus...

Ano velho e Ano Novo: dois tempos… figurando num homem velho carregando um Homem Novo! O Tempo que passa e que vem Menino ao nosso mundo… na “plenitude dos tempos”.

Ah, será que quererá significar que no Natal há um ano velho que acaba e um ano Novo que começa?... um antes e um depois? que ali há um marco histórico e sobrenatural? Um tempo velho e um tempo Novo?

Se o nascimento de Jesus é uma boa notícia, uma Boa Nova, será que nos vem dizer para deixarmos para trás o que é velho e começar o Novo?... ou de novo? que o que em nós é velho tem de dar lugar ao novo, ou renovado?...

Tantas interrogações a que uma simples figura nos pode levar!...

Mas acho que sim, que é isso... – uma coisa é certa: não podemos ficar indiferentes ao Natal, que é tempo de nascimento, de nascer sempre a cada ano, outra e outra vez, nascer de Novo, nascer O Novo. O Homem Velho dá lugar ao Homem Novo. Homem Novo que é Jesus, e que tem de ser também cada um de nós que O ama e segue.

O velho tem de dar lugar sempre ao Novo, à novidade – o velho tem de carregar sempre o Novo, como a criança de colo que fomos tem de ser carregada e mantida sempre em nós, pura, perfeita, inocente, humilde e linda.

Pois que se vá o ano velho que em nós se instalou e um Ano Novo connosco viva, em revisita constante de Jesus ao nosso mundo, ao nosso eu.


Tempestade Vendaval

Sobravam tempos a ameaçar. Céus nublados e semblantes. Desconsertos, sem concertos nem sinfonias. Danças em dó maior.

E chegou, viu e quis vencer.
Em cegueira que se apodera das fragilidades, e destrói em segundos o que levou anos a mal erguer.
Ela desce e rodopia, roda e pia, pia e roda. Enrosca-se e enrola. Rola, rebola, revolve e revolta, às voltas, às soltas, sem tento nem portento que lhe trave e freio; sem meio de remir o que largou ou o devir.

Tempestade vendaval desengonçada atravessa a praça e as ruas; as vielas mais escondidas; os jardins e as florestas; as aldeias preguiçosas e cidades buliçosas, desde o casebre mais tosco até ao palácio real; castiçais e candelabros são apagados num fôlego, sem dó nem piedade de plebeu ou divindade.

Tempestade furacão, fura gente, fura almas, desalmada, descompensada, destrambelhada, sem coração nem entranhas, que causa dores tamanhas, torturas, tonturas e desgostos; salta em rostos pregões aos quatro ventos, arrastando-se pela lama, destelhando até à cama, rodopiando à lareira, soprando pela boca faúlhas de fogueira. Invertebrada sai pelos mundos de qualquer jeito e maneira, sem jeito nem maneira, de soltura e caganeira. Garganeira.

Mas creio firmemente num só Deus que nos governa e vela; quando nos atravancam uma porta, Ele escancara-nos uma janela.

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