08/09/2009

Fuga


Disse para si próprio que era loucura.
Quando tinha 23 anos deixara-se envolver, perdidamente, num romance dourado com a sua professora preferida daquele segundo semestre, a mais bela das mulheres, que agora, passados quase três anos, estava ali deitada naquela cama do hospital, com os filhos a cobri-la de beijos, depois de ter estado entre a vida e a morte.
Como era possível que não soubesse nada da sua vida, que tinha filhos, marido?...
Este pensamento atormentou-o. Se tinha filhos, devia haver um homem que a amava... porque não estava ele aqui? Não conseguiu acalmar a agitação provocada pela ideia de que outro homem, apesar de ausente, preenchia um lugar a que ele não tinha direito. "Eu não posso passar sem ela, não agora que a reencontrei."
Mas a verdade é que ela o tinha deixado... sim, claro, havia outro homem... o menino mais pequeno não teria 2 anos e o mais velho uns 7. Como pudera ser tão inocente? Que fazia ele ali, então? Só conseguiu, de momento, imaginar uma solução: iria embora.
Talvez que ela tivesse gostado realmente dele, mas as circunstâncias tinham-nos levado por caminhos diferentes, apesar de agora se terem voltado a cruzar... não, não sabia porque o destino os pusera de novo frente a frente... não sabia como a encarar de novo.
Isto estava a produzir-lhe um turbilhão de sensações confusas, contraditórias, que lhe tornavam dolorosa a sua permanência ali. Afastar-se-ia... rapidamente, antes que se arrependesse.
Deitou um último olhar àquele quadro, enquanto se dirigia à porta, sentindo-se estilhaçar todo por dentro.
Talvez voltasse... ou então não.

18 comentários:

  1. Pode não ser fuga, não pode? Pode ser apenas um momento de reflexão...

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  2. É a vida não?
    A vida é isto mm...
    Bjos daqui
    Pierrot

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  3. Melhor não... conservar, ao menos, os restos do sonho. :) Boa semana!

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  4. Os lugares dos outros atingem-nos na nossa insegurança!

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  5. complicado o nosso viver... encontros, desencontros, contradições...
    é sempre um prazer passar por aqui.

    (www.minha-gaveta.blogspot.com)

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  6. Um momento que pode ser
    belo e doloroso!!!


    Beijo com amizade,

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  7. E aqui escreves sobre um momento talvez de reflexão...

    CONVITE:
    Estive 5 dias isolada do mundo, num encontro espiritual comigo mesma, num monte alentejano e, por isso tenho que muito rapidamente divulgar a minha próxima exposição de fotografia.

    Desta vez será no “Norte” a pedido de várias pessoas, em Fevereiro passado, quando foi a minha 1ª exposição individual aqui próximo de Lisboa, na margem sul.
    Como gosto de desafios, houve “alguém” que me desafiou e disse que colaborava, nem pensei 2 vezes e decidi tratar do assunto em Abril passado.

    Chegou Setembro e será a minha rentrée cultural.
    Fica o convite para quem vive perto e noutros casos, em que a distância impossibilita a presença de tantos bloggers, fica a participação do evento.

    Venho reforçar que teria todo o gosto em que estivesses presente na minha rentrée.
    Será muito próximo do Porto, em S. Mamede de Infesta.

    Acabei de fazer a divulgação no meu blog.

    Abraços, TULIPA

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  8. Oi Fa menor...encontros e desencontros, verdades e mentiras, despedidas, realidade e ficção...vida vivida...gostei do que li, prendeu-me a atenção e a curiosidade...parabéns...um abraço na alma..bjo

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  9. A vida é mesmo assim, uns são caminhos sombrios, outros radiosos, ninguem sabe que chão ainda irá pisar.
    Tudo de bom.
    Bruno Cardona

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  10. "O coração tem razões que a razão desconhece".
    A vida e seus caminhos por vezes tão desencontrados...
    Abraços.

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  11. Olá, enquanto comentava o blog do Arabe vi você e o nome "Fa menor" me chamou a atenção porque toque e sei bem a sonoridade de um Fá Menor. Então vim até aqui.

    Gostei da postagem, mas queria saber de onde tirou. Foi apenas uma idéia? Ou algo que você viu semelhante acontecendo?

    Beijo

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  12. ... há reencontros que são apenas isso: reencontros. Mas neste futura-me que haverá mais qualquer coisa...

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  13. Fontez10:54

    há caminhos que ficamos de pernas a tremer.

    sem coragem, continuaremos na nossa "caverna".

    bj iluminoso.

    p.s. n podes comentar no tal post pois n pos pra comentar. é pois um post sem comentário.

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  14. Quando a nossa presença não faz sentido, só nos resta desaparecer.
    No amor e na vida em geral.
    Gostei do texto querida amiga.
    Beijo.

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  15. Fá,
    Por vezes quando uma paixão nasce, só os dois é que importam, e nada do que os rodeia interessa. E quando assim é vive-se o momento como se o mundo lá fora não existisse, e com isso há muitas perguntas que ficam por fazer... eu diria todas as perguntas ficam por fazer.
    Bjs.

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  16. Olá, querida amiga Fá!
    Vou aguardar a continuação.
    Por ora, parece um amor impossível...
    Tenha um setembro abençoado!
    Beijinhos

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  17. Me gusto el relato. Te mando un beso.

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  18. Muito bem escrito, impecável.
    Abraço, Amiga.
    ====

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Truman Capote diz:
«Quando se trata de escrever,
acredito mais na tesoura do que na caneta.»...
Mas eu escrevo aqui por entre o imaginado e o sentido; e
«Entre meus rabiscos e minhas ideias há um mundo de sentimentos.» (Marcelle Melo)
.
Leia pf: Indicações sobre os Comentários

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