12/10/2012

A molha


Os pingos grossos de chuva levantaram o cheiro a terra molhada. 

A manhã acordara suavemente, com ténues raios de sol a espreitar por entre as nuvens que anunciavam a primeira chuva do Outono. Esperá-la tornou-se em ânsia crescente à medida que ela mais se fazia adivinhar.
E ela, então, espreitou ao longe. Observei-a a começar, para lá do arvoredo, a pintar tudo de branco até chegar aqui. 
Primeiro um pingo. Logo outro e outro… e o cheiro a terra molhada a elevar-se com a suavidade e doçura de um chupa-chupa, que apetece saborear devagarinho. 
Chamei-a, “vem chuva, vem!...”, e ela não se fez rogada. Veio lamber o alpendre de um lado ao outro, enquanto eu, com uma vassoura, a ajudava a poli-lo de um brilho molhado apetecível, removendo a sujidade à sua frente. De pés descalços na água morna, cabelo e roupa a escorrer, senti-me a brilhar mais do que o alpendre. Toda eu era riso por dentro e por fora, feliz por poder apalpar o Outono que me beijava. 

Agora, depois de ter ouvido das boas da mãe e de mudar de roupa, olho-o da janela, de cara encostada ao vidro embaciado. O Outono e a chuva podem ser sonhos quentes que molham o rosto e embalam a alma. A mãe, sempre tão azeda e fria, sabe lá alguma coisa disso!

15 comentários:

  1. Chuva de Outono e cheiro a terra molhada ! Um texto interessante e muito bem escrito !
    Bom fim de semana

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  2. Belíssimo texto outonal. A chuva molha, certo, mas também lava a terra e alma de que sabe aceitar o que ele traz... e o que ela leva.
    Muito belo!

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  3. Texto lindo, sempre uma narrativa a trazer vida dentro e recordações tão boas...

    Beijo grande.

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  4. Bom dia Fá,
    Lindo e emocionante o seu texto!
    Tanto me diz. Das primeiras chuvas, do cheio a terra molhada e ainda as "palavras frias" que ainda por vezes batem no meu coração.
    Beijinhos e bom domingo.Ailime

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  5. em breves momentos, fui eu a protagonista.
    muito agradável de ler.
    beij

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  6. Outono assim sabe bem! :)

    beijos

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  7. Adorei o teu texto, senti-me ali eu feliz da vida varrendo o alpendre e deliciando-me com o aroma da terra molhada...
    Bjs

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  8. As mães nunca sabem nada disto.
    eheheh...
    Gostava de ter visto essa molha...
    Mas gostei muito do texto, Menorzinha...
    Tem um boa semana.
    Beijinhos.

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  9. .

    .

    . é sempre um prazer que me acrescenta . como o cheiro da terra molhada . do húmus profundo ainda que à superfície .

    . o esplendor deste outono .

    .

    . na fulgência da Sua escrita .

    .

    . um beijo meu .

    .

    .

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  10. Minha querida

    E é tão bom o cheiro a terra molhada, fez-me lembrar o meu Alentejo e tive saudades de mim.
    Como sempre um texto maravilhoso.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  11. Sempre me impressionou a sensação de liberdade e pureza que vem no cheiro da terra molhada! Belo post, boa semana.

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  12. O outono, estação intermédia entre o calor e o frio. É assim como um apeadeiro de comboio: pouca gente a entrar e pouca gente a sair. Fica na ar o cheiro das folhas secas bailando num aviso de chuva fresca.

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  13. Belo pedaço de rotina de todos os dias
    :-)

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Truman Capote diz:
«Quando se trata de escrever,
acredito mais na tesoura do que na caneta.»...
Mas eu escrevo aqui por entre o imaginado e o sentido; e
«Entre meus rabiscos e minhas ideias há um mundo de sentimentos.» (Marcelle Melo)
.
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